E o país que só prende três P’s (preto, pobre e puta) volta a atacar. A sorte dessa gente – e o azar do Brasil – é que, como canta a banda Skank, “A nossa indignação é uma mosca sem asas; não ultrapassa as janelas de nossas casas”.
Nesta chuvosa terça-feira, 29 – pelo menos em Belo Horizonte -, clima bem apropriado para decisões judiciais nebulosas, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes (sempre ele), tornou José Dirceu um “ficha mais limpa do que eu”, se procurarem bem direitinho.
Sim, é capaz de eu ter algum esqueleto guardado, em algum armário do passado, e, por isso, caso caia, algum dia, em desgraça com os supremos togados, a Papuda será minha casa de veraneio por bons anos, já que não tenho nenhum “amigo do amigo de meu pai” para me socorrer.
Nem todos os P’s são iguais
Já Dirceu, condenado no mensalão e solto por um desavergonhado indulto da ex-presidente Dilma Rousseff, nos tempos em que ela estocava vento e saudava a mandioca – hoje, em dólares, ela se ocupa sendo porta-voz da China e caixa de ressonância de antissemitas – e no petrolão, por duas vezes!, mas igualmente solto pelos votos do trio Mendes, Toffoli e Lewandowski, não apenas está “zerado” com a Justiça (Justiça?) brasileira como poderá, se quiser, se candidatar a qualquer cargo público.
Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, em 2023 havia mais de 850 mil presidiários no Brasil. Já segundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), destes, em 2022, 44% eram presos provisórios, ou seja, gente empilhada em masmorras sem uma sentença condenatória definitiva – o famoso “transitado em julgado”.
O azar dessa turma, majoritariamente pretos (70%) e pobres, é fazer parte de dois tipos de P’s – o outro P (puta) é minoritário, já que apenas 46 mil mulheres estavam detidas em 2023 e não há informações sobre prostituição. Fizessem parte dos P’s de: partido político, poderosos de plantão, potentados da economia, professores de direito, palestrantes de eventos jurídicos, pais de magistrados, procuradores e promotores, porta-vozes de criminosos, protegidos políticos etc., certamente estariam gozando de liberdade e boa vida.
Almas honestas
Um a um dos condenados no âmbito da Lava Jato, muitos deles réus confessos que apresentaram provas de seus delitos e devolveram parte do dinheiro que roubaram, vão tendo o passado reescrito por alguns ministros do STF.
Lula, certa vez, declarou ser “A alma mais honesta deste país”. Sim, o condenado por corrupção e lavagem de dinheiro em primeira e segunda instâncias, e posteriormente no Superior Tribunal de Justiça (STJ), que teve seus processos e penas anulados no Supremo, mas, jamais, em tempo algum, sendo inocentado de seus crimes, considera-se um homem honestíssimo.
José Dirceu, agora, já pode reivindicar a alcunha de probo. Depois, poderá dizer que foi perseguido politicamente e vítima de Sergio Moro. Ato contínuo, deverá se candidatar, eleger-se e passar a ganhar muito dinheiro às custas daqueles três P’s que não tiveram a sorte de ser “amigo dos homi”. Ou de ter grana suficiente para patrocinar certos institutos e eventos.
Por o antagonista