Na segunda-feira (26), o ditador socialista da Nicarágua, Daniel Ortega, criticou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pela postura do governo brasileiro em relação às eleições na Venezuela e usou essa crítica como justificativa para o rompimento das relações diplomáticas com o Brasil.
A declaração ocorre pouco mais de 2 semanas após a expulsão do embaixador brasileiro na Nicarágua, Breno de Souza.
“Nesta presidência, você quer se converter em representante dos ianques [norte-americanos] na América Latina, por isso rompemos relações com o Brasil”, disse Ortega, dirigindo-se a Lula em discurso na cúpula extraordinária da Aliança Bolivariana para os Povos da América, coligação de governos aliados da ditadura venezuelana.
Em pronunciamento, Ortega criticou a proposta brasileira de um novo pleito na Venezuela e disse que Lula se comportou de forma “vergonhosa” durante a crise pós-eleitoral: “A forma com que Lula se comportou diante da vitória do presidente legítimo da Venezuela é vergonhosa, repetindo as consignas dos ianques, dos europeus, dos governos influenciados da América Latina”.
Lula não participou da cúpula, mas foi alvo de diversos minutos da fala de Ortega, que chegou a criticar a política interna do petista e citou as denúncias de corrupção do Governo Lula.
“Não me diga que suas administrações foram extraordinárias. Foi extraordinária com o campo quando você foi presidente pela primeira vez, mas também lembre dos escândalos da [operação] Lava Jato, lembre de tudo isso”, disse o ditador nicaraguense, concluindo que “aparentemente não foi um governo muito claro, muito limpo”.
Ortega ainda chegou a ponderar dizendo que Lula tem “dificuldades” já que “um artigo dizia que a chancelaria [brasileira] e em outros lugares estão cheios de direitistas neoliberais”.
Segundo Ortega, os diplomatas do ministério das Relações Exteriores teriam começado a “brigar” com seu governo.
Acusado de várias violações dos direitos humanos e de perseguir opositores, incluindo religiosos, Ortega mencionou a tentativa de intermediação de Lula com Manágua após uma audiência com o Papa Francisco. Esse episódio teria sido a razão para o afastamento do governo petista em relação ao regime.
“Ligaram da chancelaria brasileira e estavam pedindo que ele queria falar porque tinha uma mensagem do Papa”, disse Ortega, afirmando que seu governo tinha interlocução com o Vaticano e que se o pontífice queria falar com ele poderia fazê-lo diretamente.
“Não precisamos de intermediário e nem pedimos que Lula fosse intermediário. Respondemos para Lula e ele se incomodou”, garantiu o ditador.
Daniel Ortega também disse que o petista havia dado uma entrevista em que afirmou que o nicaraguense “já não é o que foi antes” e que seria “outro ditador”.
“[O Brasil] Pode ser uma potência, nós somos um país pequenino, não temos a potência do Brasil, a economia do Brasil nem nada do estilo, mas temos algo que vale mais que tudo isso: dignidade, defesa da nossa soberania”, afirmou Ortega.
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