Em uma disputa acirrada, que levou o Palácio do Planalto à mesa de negociação, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, foi reeleito para novo mandato à frente da Casa no biênio 2023-2024. Com 49 votos, Pacheco derrotou o ex-ministro do governo Jair Bolsonaro Rogério Marinho, que ficou com 32.
Na tentativa de conter dissidências na base aliada e garantir voto em Pacheco, o governo do presidente Lula prometeu ao União Brasil, ao MDB e até ao PSD diretorias de autarquias, estatais e bancos públicos. A estratégia barrou a chegada de um bolsonarista ao comando de um dos três Poderes, já que o presidente do Senado é também o chefe do Congresso.
Pacheco passou pelo teste político justamente com esse patamar, oito votos a mais do que o mínimo necessário para vencer no primeiro turno. A poucos metros do Salão Azul do Senado, o presidente da Câmara, Lira , obteve uma vitória acachapante, com 464 votos, reforçando o poder do Centrão.
Barganha
Diante desse cenário, tudo indica que o governo terá de entrar na barganha política. Na Câmara, Lula ficará refém do Centrão e deve ter uma oposição forte em um Senado com perfil conservador. Dos 81 senadores, 32 preferiram ir contra Pacheco e o PT.
Até agora, na lista de cargos prometidos pelo governo a aliados nos Estados estão diretorias do Banco do Nordeste, Banco da Amazônia, superintendências da Sudam, Sudene e Suframa, do Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Dnocs) e até do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). A presidência da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), conhecida como “estatal do Centrão”, deve ficar com o União Brasil.
Na prática, a disputa entre Pacheco e Marinho ganhou contornos de terceiro turno entre Lula e Bolsonaro, principalmente nas redes sociais. O senador Eduardo Girão (Podemos-CE) desistiu do páreo pouco antes da votação e anunciou apoio a Marinho, ex-ministro do Desenvolvimento Regional.
Polarização
Três semanas depois dos atos que depredaram o Palácio do Planalto, o Congresso e o Supremo, a campanha no Senado escancarou o clima de radicalização no País. Após ser reeleito, Pacheco pregou a “pacificação”, mas ressalvou que isso não significava leniência com vandalismo.
“A polarização tóxica precisa ser erradicada de nosso País. Acontecimentos como os ocorridos aqui neste Congresso Nacional e na Praça dos Três Poderes, em 8 de janeiro de 2023, não podem, e não vão, se repetir”, discursou o presidente do Senado. “Os brasileiros precisam voltar a divergir civilizadamente, precisam reconhecer com absoluta sobriedade quando derrotados e precisam respeitar a autoridade das instituições públicas.”
Ao lembrar que foi muito atacado pelo “gabinete do ódio” nas mídias digitais, Pacheco defendeu a regulamentação das redes, sob o argumento de que elas não podem ser “terra sem lei”.
Marinho criticou a manutenção do grupo de Pacheco no poder e fez uma referência indireta ao senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), que comanda a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e é fiador político do presidente do Senado. “Repetir os mesmos métodos e esperar resultados diferentes é, no mínimo, irracional”, disse Marinho. Alcolumbre devolveu com uma provocação. “Só aí ele perdeu cinco votos. Tem muito senador que gosta de mim”, afirmou.
Michelle chegou a entrar no plenário para conversar com senadores. Questionada se Bolsonaro não havia retornado dos EUA, onde está desde 30 de dezembro, por receio de ser preso, a ex-primeira dama rebateu: “Não é ele que tem de ter medo de ser preso”.
Poucos minutos depois, o ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, apareceu no Salão Azul do Senado. Articulador político do Planalto, ele adotou o discurso oficial de que o governo não iria interferir na disputa, mas defendeu Pacheco.
Ao ser perguntado o que achava de Michelle pedir votos para Marinho, Padilha respondeu de pronto. “Eu acho que o fato de o marido dela ter fugido do País, não ter passado a faixa presidencial e ter se recusado a admitir a derrota não é um bom cartão de visita”, alfinetou. Deputado eleito, Padilha e outros dez ministros foram exonerados por Lula apenas para assumir seus mandatos no Congresso e votar nos candidatos do governo.
Acerto
A composição da Mesa Diretora do Senado ainda será definida nesta quinta-feira, 2. Petistas temem que Pacheco e Alcolumbre queiram isolar o PL de Marinho. Avaliam que, se isso ocorrer, a oposição ao governo pode aumentar.
Pelo acerto fechado até agora, o MDB ficará com a primeira vice-presidência; o União Brasil, com a segunda vice, e o PT terá a primeira secretaria. Apesar das críticas relativas à concentração de poder, Alcolumbre não quer abrir mão do comando da CCJ.
Publicado em: Política