“Ela mesma levava para o banheiro, até brigava com os professores, questionando o motivo que a criança que estava chorando ainda não tinha sido levada para o banheiro. Quando elas estavam chorando não podiam ficar em sala de aula, porque se alguém estivesse andando na rua e ouvisse a criança chorando ia imaginar que elas podiam estar sendo maltratadas. Ela queria dar a aparência de uma escola perfeita”.
A Polícia Civil apura a suspeita de tortura contra crianças na escola. Mães de duas crianças que aparecem em vídeos amarradas e chorando foram ouvidas pela investigação, elas disseram que seus filhos voltavam para casa feridos e doentes quando saíam do berçário da escola.
Uma professora que prefere não ser identificada, afirmou que sempre que a diretora Roberta Regina Rossi Serme, de 40 anos, ouvia uma criança chorando, ela mesma ia até a sala de aula, reprendia a criança e se ainda assim continuasse chorando, a diretora a levava para o banheiro.
“Ela entrava na sala e mandava a criança calar a boca, quando a criança chorava muito, ela tirava eles da sala de aula e levava até o banheiro e deixava lá trancado no escuro no bebê conforto. Quando era uma [criança] maiorzinha, ela levava para ficar sentado no chão da própria sala por horas, muitas chegavam a dormir sentados de tão cansados”, afirmou a professora que trabalhou no local de novembro até fevereiro no local.
Uma outra professora que trabalhou na escola infantil entre julho e dezembro de 2021, afirmou que assim que começou a trabalhar no local, a própria diretora relatou que costumava “embalar” os bebês para que eles dormissem melhor.
A professora também relatou que com o passar do tempo, além de amarrar os bebês, a diretora também levava eles para o banheiro, apagava a luz e fechava a porta do local. “Ela vinha com a desculpa de que era para evitar que as pessoas da rua ouvissem os choros porque poderiam interpretar isso da maneira errada”.
“Ela se irritava muito com o choro, nós não colocávamos eles no banheiro, sempre tentávamos acalmá-los na sala mesmo. Quando o choro persistia ela entrava nervosa na sala afirmando que não queria criança chorando em sala de aula, nisso ela fazia a amarração e levava a criança para o banheiro, em alguns casos ela pedia para a tia da limpeza ajudar ela”.
Segundo os relatos, cerca de sete professoras trabalhavam no local, uma das professoras ouvidas pelo g1 informou que a equipe tinha medo de repreender ou interferir na prática da diretora. “Ela é a dona, ela dava ordens, porém, eu mesma nunca levaria para o banheiro, muito menos prender eles com lençóis”.
A escolinha é investigada desde a semana passada pelos crimes de maus-tratos, periclitação de vida, que é colocar a saúde das crianças em risco, e submissão delas a vexame ou constrangimento por causa dos vídeos que circulam nas redes sociais e mostram maus-tratos a quatro alunos. Dois deles são filhos dessas mães que relataram ter visto os filhos machucados e doentes. Nas filmagens, eles aparecem amarrados e chorando dentro de um banheiro.
Nesta semana, no entanto, a Central Especializada de Repressão a Crimes e Ocorrências Diversas (Cerco) da 8ª Delegacia Seccional, decidiu incluir a tortura após ouvir diversos depoimentos sobre como as crianças eram tratadas na Colmeia Mágica.
Publicado em: Política