Certa vez, quando perguntaram a Ariano Suassuna se ele se considerava pessimista, o escritor respondeu:
― Nem otimista, nem pessimista, eu sou um realista esperançoso!
Foi assim que eu analisei as manifestações do último dia 7 de setembro, quando milhões de brasileiros foram às ruas em defesa da liberdade: com realismo e esperança. Realista, eu sabia que era improvável (e indesejável) uma ruptura institucional que poderia levar o país ao caos. Esperançoso, eu acreditava na possibilidade de algumas concessões do sistema político, no sentido de garantir a liberdade de expressão e outros direitos fundamentais. A saída de Xandão ― por iniciativa própria ― me parecia não apenas possível, como até provável, para assegurar a pacificação social no país.
Como vimos nas últimas semanas, a realidade destruiu essas esperanças. O acordo entre Temer e Bolsonaro serviu unicamente para evitar, por enquanto, o impeachment de Bolsonaro e talvez a prisão de alguém próximo ao presidente. Nossa liberdade continua tão perseguida e acuada quanto antes. Os inquéritos do fim do mundo continuam lá, como uma tortura diária para alguns brasileiros patriotas. Daniel Silveira segue preso por crime de fala.
Xandão, o juiz Holden de nosso meridiano, não recuou um milímetro. Wellington Macedo e Roberto Jefferson só conseguiram, respectivamente, sair da cadeia quando estavam à beira da morte. Mas continuam presos, impossibilitados de falar livremente o que pensam e exercer os seus papéis públicos. Bob Jeff não pode nem rezar para que Deus o proteja dos inimigos. Wellington perdeu dez quilos; a fé em Deus o salvou.
Agora, Xandão quer extraditar e prender o jornalista Allan dos Santos, cujo crime foi denunciar ― e evitar ― a tentativa de golpe contra o Presidente da República, urdido por seus inimigos internos e externos. Em um único dia de trabalho, Allan faz mais pelo Brasil do que Xandão fez ao longo de toda sua carreira de serviçal e tirano do sistema político.
Xandão hoje é o Rei do Brasil: Alexandre O Pequeno. Um soberano de alma minúscula, um ser consumido pelo remorso e pela sede de vingança, um compêndio de amarguras. Seu sonho é botar na cadeia todos aqueles que questionam a sua autoridade usurpadora e ilegítima. Mas tenho absoluta certeza de que esse arremedo de Vishinsky um dia conhecerá a verdadeira Justiça.
A exemplo do mestre Ariano, continuo sendo um realista esperançoso. A realidade pode destruir minhas esperanças, mas elas possuem o dom de voltar à vida.
― Paulo Briguet é editor-chefe do BSM.
Publicado em: Política