A delegada Denisse Dias Rosas Ribeiro, da Polícia Federal, se opôs à realização de uma operação de busca e apreensão, autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, que mirou aliados do presidente Jair Bolsonaro. Em ofício encaminhado ao STF, a delegada disse que a realização da operação no início das investigações representaria um “risco desnecessário” à “estabilidade das instituições”. A resistência de Denisse às medidas levou a Procuradoria-Geral da República (PGR) a pedir o seu afastamento do caso.
O pedido da delegada da PF foi visto como estranheza entre procuradores e como o motivo do atraso na realização da operação, que estava prevista para a primeira semana de junho. O relator do inquérito que investiga a organização e o financiamento de atos antidemocráticos, ministro Alexandre de Moraes, autorizou a realização da operação de busca e apreensão no final do mês passado.
“Pela postergação do cumprimento ou pelo recolhimento das ordens já emanadas, a fim de que o direcionamento dos recursos da Polícia Federal seja inicialmente empregado na obtenção de dados de interesse e no preenchimento das diversas lacunas das hipóteses criminais aqui apresentadas”, pediu Denisse a Moraes.
Denisse integra um grupo de quatro delegados que auxilia os trabalhos de Alexandre de Moraes nessa investigação e no inquérito sobre ameaças, ofensas e fake news disparadas contra integrantes do STF e seus familiares. As investigações são conduzidas por Igor Romário de Paula, que integrou a Lava Jato em Curitiba, e é tido como um aliado do ex-ministro Sérgio Moro.
Depois que Moro acusou Bolsonaro de tentar interferir politicamente na PF, Alexandre de Moraes decidiu blindar a equipe e impedir que os delegados fossem trocados em meio à substituição no comando da corporação.
Em 2017, a mesma delegada já havia faz uma série de observações sobre problemas enfrentados pelos investigadores da operação Zelotes. Entre os problemas citados estava a falta de foco de órgãos parceiros na investigação que, segundo ela, resulta em uma apuração “genérica e difusa”.
Procurada, a PF informou que não vai se manifestar.
Operação. A operação, autorizada por Moraes em 27 de maio, foi realizada apenas nesta semana, quando a Polícia Federal (PF) cumpriu 21 mandados de busca e apreensão contra um parlamentar, políticos ligados ao Aliança pelo Brasil, partido que o presidente Jair Bolsonaro pretende criar, além de blogueiros e youtubers que apoiam o governo federal.
Segundo a PGR os investigados teriam agido para “financiar e promover atos que se enquadram em práticas tipificadas como crime pela Lei de Segurança Nacional”. O objetivo deste inquérito é descobrir quem está por trás de manifestações que pediam o fechamento do Congresso e do Supremo, além da volta do AI-5, medida mais dura da ditadura militar. Em 19 de abril, Bolsonaro chegou a discursar em um ato do tipo, em frente ao Quartel General do Exército, em Brasília.
Moraes também determinou que YouTube, Facebook e Instagram informem se as páginas mantidas pelos alvos da operação recebem algum tipo de pagamento por postagem. Se tiverem acesso a esses dados, os investigadores poderão saber se as convocações para os atos e as postagens contra as instituições são ou não remuneradas.
O cerco a apoiadores de Bolsonaro ligados a manifestações envolve ainda um dos principais articuladores da criação do Aliança pelo Brasil: o empresário Luís Fernando Belmonte. Ele auxiliou na organização de ao menos um dos atos antidemocráticos realizados em Brasília. Como revelou o Estadão em maio, ele serviu de ponte para os diferentes grupos se organizassem. Em entrevista na época, Belmonte disse que não colocou nenhum centavo no evento. “Coloquei eles em contato, chamei um, chamei outro. Fiz a questão de dizer que precisaria ter dois tipos de procedimento. Primeiro, que se limitasse a apoio ao presidente Bolsonaro e que não (tivesse) fora (Rodrigo) Maia ou fora Congresso”, afirmou na ocasião.
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