— O nosso objetivo é que eles se desliguem do hospital (no momento em que estão com a “Hope”). Para que se sintam como se estivessem em casa, trazer um pouco do conforto na nossa casa, do lar — afirma Santana, que é dona de “Hope”.
De lá para cá, até o projeto tomar forma, foi preciso encontrar um macho e uma fêmea com características compatíveis com a função que exerceria, a de cão terapeuta. Os pais de “Hope” foram escolhidos em um canil e, entre os filhotes, a mais dócil e calma foi recebeu o treinamento necessário.
— Os treinos foram diários. Como deixá-la quietinha e fazer com que ela goste muito de carinho, além de levá-la para locais, com o fim de ter contato com crianças. Aos oito meses ela estava pronta — acrescenta Santana, ao destacar ainda que a equipe médica do local onde ela trabalha abraçou a iniciativa. — A ideia era ter um cachorro que fizesse parte da oncologia pediátrica.
Visitas de cães em locais de tratamento não são exatamente uma novidade — Ongs, por exemplo, geralmente fornecem bichinhos para esse tipo de ação. Em relação à “Hope”, no entanto, é um pouco diferente porque é a primeira cadela com acesso à área pediátrica do Inca (Inca 1) .
As crianças, claro, ainda conforme destacou a doutora, adoram quando a visita ilustre chega ao hospital.
— Um menininho nosso, numa das ocasiões, não queria comer. A enfermeira disse que a “Hope” tinha dito para que ele se alimentasse. Ele comeu. No dia da visita dela, foi logo contar a novidade: “Hope, eu comi tudo” — conta doutora, que acrescenta. — Crianças transplantadas não podem ter contato direto com ela. Mas um dia, um menino pediu para olhar de longe, e já ficou feliz. A vida é feita desses pequenos momentos.
O treinamento de “Hope” foi em etapas. Primeiro, mais simples e depois tarefas mais elaboradas, conforme salienta o treinador da cachorrinha André Donza. Além, claro, de reservar um tempo para que ela seja uma cachorrinha normal.
— Quando ela estava começando o treinamento, as tarefas eram mais básicas, como sentar ou ir para a caminha. Depois vieram os exercícios mais complexos, de especialização, como receber carinho de pessoas em locais públicos, como metrô, shoppings — explica o treinador.
— Ela também tem os momentos de uma cachorra normal. Quando vai para minha casa, por exemplo, brinca com os outros cachorros; ou quando está passeando pelas ruas, pode ter contato com os outros bichinhos. É diferente quando ela está em treinamento.
O treinador e a médica realizam o trabalho de forma voluntária. A ideia é que o número de visitas aumentem para, ao menos, mais um dia por semana.
Jornal Extra/Rio
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