A nação se violenta e se adultera no cinismo de uma inconsciência dos valores morais e éticos, sem perspectivas de acordar-se para uma realidade doentia. Aí se descobre que a Odebrecht mantinha uma sala num prédio comercial da Faria Lima para armazenar notas de dinheiro obtidas por doleiros com lojistas chineses da região da 25 de março e, assim, pagar propina e caixa 2 a políticos e agentes públicos na capital paulista. De repete autor de Projeto de Lei é esquecido para lançamento do objetivo do projeto. E o ministro Gilmar Mendes não escapa de manifestações em Lisboa-Portugal. Cadê a consciência dos politiqueiros com a Reforma da Previdência? Esse é o país que se espera para o futuro de nossos filhos e netos?
Os três poderes institucionais, sufocados na afluência de mentiras e socorros aos interesses sórdidos do corporativismo e amarras políticas, são na verdade as raízes da crise moral e das incertezas que nos impõem a dificuldade de sermos brasileiros convictos.
A república brasileira tornou-se possível mediante a outorga das classes dominantes, principalmente das elites agrárias, que admitiram reorganizar a nação na tentativa de minimizar a insatisfação e os conflitos gerados pelo regime imperial. Os 126 anos de república ainda são conturbados, com golpes destinados a salvaguardar as conveniências das classes dominantes. A nação continua marcada pela pobreza social e, sobretudo, pela descrença nos alicerces da democracia, justamente em função das armadilhas dos arlequins da política de alcova.
A sociedade brasileira convive com o cúmulo de hipocrisia e esperteza, que alimenta instabilidades políticas e a descrença popular, em detrimento do desenvolvimento social e econômico. Como já disse Rui Barbosa no começo do século XX e que retrata a realidade de hoje, “a política é uma brenha de traições e duplicidades”, que mergulha a nação na desconfiança permanente.
Vivemos sufocados por leis, normas e conceitos que nos obrigam todo instante a provar que somos honestos. Hoje é preciso até reconhecer firma de cartorário, enquanto os aposentados necessitam, todo ano, provar que estão vivos. Tudo isso decorre da ausência de referências éticas, morais e de credibilidade nas instituições. A impunidade ganha corpo, estimulando a violência e a banalização do crime. Perdemos a noção de valor humano e as novas gerações sequer têm consciência dos direitos e deveres no exercício da cidadania.
Matar uma pessoa para roubar um relógio ou R$ 10,00 que ensejam uma pedra de crack tornou-se comum, transformando ruas e ambientes familiares em cárceres do terror brasileiro, que mata cerca de 70 mil pessoas por ano, mais que a guerra entre judeus e árabes. O Brasil é líder mundial em número absoluto de homicídio. E no desespero prevalecem alternativas que fragilizam ainda mais a nação, como a redução da maioridade penal.
Quando se vê o Congresso Nacional aprovando leis e projetos contra o interesse da nação; quando se sabe que o presidente do STF conversa em segredo com a presidente da República sobre denúncias em processo de julgamento, e quando o executivo revela-se improbo e inseguro, torna-se lógica a conclusão de que a sociedade precisa assumir uma profunda reforma, a começar pelo voto consciente e protestos nas ruas, em busca do respeito que os três poderes lhe devem.
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