O jornalista investigativo e documentarista premiado, Jawad Rhalib, do portal francês Mediapart, publicou, no dia 6 de março, áudios de uma conversa com a jornalista Constança Rezende, do jornal O Estado de S. Paulo. Nas gravações, são apontadas as “reais motivações” por trás da mídia negativa sobre o senador Flavio Bolsonaro e o Presidente Jair Bolsonaro, segundo Rhalib. Ele também escreve um artigo condenando a forma de trabalho da imprensa brasileira e do COAF, além de destacar que as declarações de Constanza revelam a clara intenção de arruinar o governo Bolsonaro.
Abaixo os principais trechos do artigo Jawad Rhalib e da transcrição dos áudios:
Para onde vai a imprensa?
“Minha especialidade de jornalista documental sempre me encorajou ao rigor (profissional). Essa sempre foi minha primeira preocupação antes de cada investigação, de cada produção de um documentário … Também é a regra entre milhares de meus colegas ao redor do mundo. A fim de destacar um acontecimento, para vê-lo e torná-lo visível, para explicá-lo ao público com absoluta honestidade, objetividade e precisão.
Quem, o quê, onde, por que, como? Se no documentário criativo, a investigação está a serviço da criação com um propósito e um posicionamento a favor de uma causa, nas notícias, a impressão,a posição, o preconceito, o ativismo não cabe ao jornalista. A militância é uma coisa ruim em nossa área, exceto quando se trata de colaborar claramente com um político, por exemplo.
A mídia tem influência sobre os povos e sobre a opinião pública e não há espaço para propaganda partidária, para manipulação, que infelizmente nos privaria de nossa liberdade e nos sujeitaria a este ou aquele partido político, movimento, influência… A mídia pode nos esmagar como quiser, nos enganar.
Desde sua eleição para a presidência do Brasil, Bolsonaro intriga, perturba, chama. E diante dessa onda da mídia, como jornalista, me fiz a seguinte pergunta: E se eu investigasse de perto o que está escrito sobre ele e tentasse determinar o que é verdadeiro ou falso? E se eu checar os fatos? Fazer a verificação de fatos?
Assim, solicitei a um dos meus colaboradores que trabalhasse comigo neste assunto, para conduzir uma pesquisa sobre as reações da mídia ao novo líder brasileiro. (…) A chegada de Bolsonaro é uma grande reviravolta no cenário político brasileiro, que passou recentemente por uma elite corrupta.
Deste modo, ficamos interessados, a princípio, por alguns jornalistas anti-Bolsonaro. E então, pouco a pouco, nossa lista tornou-se mais estreita e focada em artigos específicos de uma jornalista virulenta contra Bolsanaro. Esta jornalista, do jornal o Estado de São Paulo, se chama Constança Rezende. Ela foi a primeira jornalista a publicar artigos sobre Flávio Bolsonaro, filho de Jair Bolsonaro. Nós a procuramos (…) e a jornalista aceitou uma entrevista por telefone, na qual gravamos para compreender as suas motivações.
Ao final, saiu com um registro que desenha um quadro catastrófico entre os meios de comunicação brasileiros e instituições governamentais (como o COAF).
Em dezembro de 2018, Flavio Bolsonaro – então deputado estadual do Rio de Janeiro, atual senador e filho do presidente Jair Bolsonaro – esteve no centro de vários artigos polêmicos na mídia brasileira. De acordo com a cobertura inicial, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) do Brasil publicou um relatório detalhando pagamentos questionáveis de 1,2 milhões de reais, entre 2016 e 2017, para Fabricio Jose Carlos Queiroz, que era, então, motorista de Flavio Bolsonaro. A partir daí, muito rapidamente, os relatos da mídia foram concentrados na abertura de uma investigação contra o próprio Flavio Bolsonaro.
A conversa registrada entre minha colaboradora (e aluna) e Constança Rezende revela que a real motivação por trás da cobertura negativa da mídia é a de “arruinar” o presidente Jair Bolsonaro e provocar sua demissão. Este estudo de caso de como a mídia brasileira partidária lida com as notícias revela que elas não estão interessadas nos fatos reais, mas simplesmente usam histórias negativas, muitas vezes inventadas, sobre a família do Presidente Bolsonaro, eleito democraticamente.
Constança Rezende tem a posse de documentos não-públicos que foram ilegalmente entregues a ela pelo COAF, que publicou seu primeiro artigo contra Flavio Bolsonaro baseado nestes relatórios obtidos há mais de um ano. Porém, que só foram liberados em dezembro de 2018, logo após as eleições gerais de outubro e antes da posse de Jair Bolsonaro em janeiro de 2019.
O momento de repassar os documentos do COAF a jornalistas brasileiros levanta sérias dúvidas. Quem se beneficia com este comunicado de imprensa? Além das motivações do COAF?
Vamos ser claros: eu não sou um defensor de Bolsonaro, mas eu acho que usar o poder da mídia para atacar um presidente através de seu filho é, de qualquer maneira, inaceitável para o jornalista que sou.
Rezende declara resolutamente que só escreve no caso Flavio Bolsonaro para “arruinar” o presidente Jair Bolsonaro”
Segue a transcrição dos áudios dos principais trechos da conversa.
Áudio 1
Constança Rezende: Nós estamos fazendo apenas isso, acho que minha vida está destruída, porque …
Interlocutor: Hmm… Mesmo?
Constança Rezende: Eu só faço isso… Acho que este caso compromete… Vai arruinar Bolsonaro.
Àudio 3
Interlocutor: Posso perguntar… Como você disse que é algo financeiro… Trata-se de uma organização do governo ou uma organização privada?
Constança Rezende: Organização governamental, organização governamental.
Interlocutor: Como se chama?
Constança Rezende: O nome é COAF.
Interlocutor: CO?
Constança Rezende: COAF, é C-O-A-F
Interlocutor: COAF?
Constança Rezende: COAF.
Interlocutor: Ok.
Constança Rezende: Sim.
Interlocutor: E você falou com eles? Ou pediu documentos a eles? Você fala com as pessoas que trabalham lá? Isso é público?
Constança Rezende: Eu tenho esses documentos.
Interlocutor: Documentos que você tem…
Constança Rezende: Não. Não é público. Mas nós temos… (risos). Não é público, mas jornalistas recebem de fontes.
Interlocutor: Uau
Constança Rezende: Eu tenho esses documentos.
Áudio 5 ( a partir de: 00:13 até 01:09)
Interlocutor: Você acha que eles já tinham essa informação antes da eleição e esperaram (para divulgar)?
Constança Rezende: Sim, sim.
Interlocutor: Eles fizeram isso?
Constança Rezende: Sim.
Interlocutor: Então…
Constança Rezende: Sim, eles têm esse documento há um ano.
Interlocutor: Uau
Constança Rezende: Então, eles não fizeram – sim, eu escrevo sobre isso, eles não investigaram isso, e eles esperam pela eleição e depois disso, eles começam a investigar e escutar as pessoas e olhar, pedindo mais documentos e fazer, começar Fazer tudo. Mas só depois da eleição. Somente depois de escrevermos sobre o caso porque o caso foi interrompido, eles não fizeram nada sobre esses documentos. Então, eles começaram a fazer, só agora.
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Publicado em: Governo