E em Pedrinhas? Briga entre presos armados com facas expõe fragilidade da Papuda

Publicado em   13/fev/2019
por  Caio Hostilio

Com um supervisor para cada 10 detentos, complexo penitenciário de Brasília tem a estrutura vandalizada para a fabricação de armas artesanais, estocadas pelos presos. Falta de agentes e equipamentos dificulta o combate à prática

Correio Braziliense

Raios-x constataram um objeto cortante no estômago de um detento brasiliense

Uma briga entre dois presos armados com facas artesanais evidenciou as falhas na segurança do Complexo Penitenciário da Papuda. A confusão aconteceu no pátio da Penitenciária I do Distrito Federal (PDF I), na tarde de sexta-feira (8/2). Agentes gravaram a cena. Os internos se digladiaram com os objetos cortantes, e a sirene de alerta tocou. As imagens mostraram um dos servidores apontando uma espingarda de bala de borracha em direção à dupla. Com deficit de agentes, superlotação e monitoramento deficiente, presos usam ferramentas produzidas na cadeia como armas.

Os objetos pontiagudos servem para cavar paredes, facilitar fugas e ameaçar rivais — a maior parte das brigas surge por rixas na cadeia e acerto de contas. Eles fazem as ferramentas a partir dos vergalhões de aço de sustentação dos pilares das celas. Para retirar o material, os internos raspam a parede. Depois, afinam a ponta até virar estoques, facas artesanais.

Agente aponta espingarda para dois presos que brigam armados em um dos pátios da Papuda

Os internos mais fortes arrancam pedaços de ferro das celas e também apontam a base até ela virar uma navalha. As camas que antes eram de estrutura de aço também viravam alvo dos internos. Elas foram substituídas por concreto justamente para inibir a produção das facas artesanais.

Os presos escondem as ferramentas sob os colchões, em meio às roupas, em buracos cavados nas paredes tapados com sabão e até no corpo. Em outubro, um deles engoliu um pedaço de ferro contorcido preso a um barbante. Para conseguir ir ao hospital, ele e os colegas de cela provocaram uma briga. A suspeita era de que o interno havia quebrado o nariz.
Exames de raios-x constataram um objeto cortante no estômago do paciente. Ele confessou ter engolido a ferramenta para abrir a algema enquanto estivesse em atendimento. Ao ser descoberto, o preso puxou o barbante da garganta e expeliu o objeto.
O preso identificado com alguma arma artesanal é levado ao isolamento no Pavilhão Disciplinar, o castigo. Ele também perde benefícios, como banho de sol e saidão, caso seja do regime semiaberto, e responde a processo disciplinar por falta grave.

Deficit

O Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária sugere a proporção de um servidor para cada cinco detentos por turno de serviço. No Distrito Federal, há um agente supervisionando mais de 10 internos — são 1.670 agentes para 16.707 detentos.
O presidente do Sindicato dos Agentes de Atividades Penitenciárias (Sindpen-DF), Leandro Allan, disse que, com baixo efetivo, as vistorias não são realizadas todos os dias. “Não temos pessoal suficiente para fazer a segurança plena das atividades em todas as celas. Fazemos as vistorias em celas específicas e de surpresa, em revezamento”, explicou.
Segundo ele, deveriam ser contratados mais 1,5 mil agentes. “Há 200 pessoas aprovadas no último concurso que podem ser nomeadas. Nosso pedido é que isso aconteça logo e se aproveite o excedente de 2 mil candidatos aprovados. Uma lei publicada em julho permite a nomeação daqueles que passaram além do número de vagas previstas no cadastro reserva previsto do edital”, alegou.
Ele ainda alegou que, diferentemente do recomendado, os presos não são separados por grau de periculosidade. “Hoje, a segregação se dá pelo regime. Há réus primários que ficam junto de presos perigosos, o que faz com que saiam especialistas no crime. Infelizmente, o Estado não tem como efetivar o código de processo penal que determina a separação pelo grau do crime”, lamentou. “A falta de pessoal e de estrutura não permite”, acrescentou.
Consultor em segurança pública, George Felipe Dantas diz que só um sistema penitenciário deficiente permite a articulação de presos. “Temos um sistema esgotado e com má custódia. A fiscalização deficiente é função do subdimensionamento de capacidade e fiscalização. Isso faz com que os presos se armem”, comentou.

Câmeras

A Sesipe informou haver 44 câmeras na PDF I e outras 44 na Penitenciária do Distrito Federal II (PDF II). Os equipamentos estão instalados e em funcionamento nos corredores e nas áreas sensíveis das unidades prisionais, garante o órgão. A Sesipe esclarece que as celas não podem ser monitoradas por câmeras de segurança para não violar a intimidade do preso, conforme manda Lei de Execução Penal nº 7.210, de julho de 1984.

  Publicado em: Governo

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