Na parede da sala, um relógio estampa o rosto de Michael Jacskson. Os ponteiros não funcionam, mas ele diz que não importa. A figura é um lembrete para Silvio Maia de que o rei do pop continua vivo — ao menos em suas pregações. Pastor evangélico, Silvio viu nas coreografias de Michael uma forma de trazer alegria aos cultos e manter a memória do ídolo. Ele se apresenta em shows pelo Brasil desde a morte do astro, em 25 de junho de 2009, aliando palavras do Evangelho aos passos de Michael — com direito até a moonwalk.
Silvio ficou conhecido como Pastor Michael Jackson depois que um vídeo gravado durante uma de suas apresentações foi parar no YouTube. A cena do pastor deixando o sapato escapar enquanto dançava viralizou rapidamente. A apresentação aconteceu três dias antes da morte de Michael, e foi o gancho para Silvio ganhar as redes.
— Ninguém me chamava de Pastor Michael Jackson. Durante uma apresentação em uma igreja, entrei no palco para cantar uma música que compus, “Dia de alegria”, fui fazer um passo e o sapato voou. Três dias depois, Michael morreu. Alguém gravou e postou o vídeo assim: “Michael não morreu, virou crente” — lembra.
Silvio conta que tinha investido todas as economias na gravação do seu primeiro CD, mas nada dava certo até então. Com o sucesso na web, o pastor mudou de vida e foi convidado para cantar em várias igrejas pelo Brasil:
— Recebi um telefonema perguntando se eu era o Pastor Michael Jackson. Acabei convidado para cantar em mais de 40 igrejas. Consegui reformar minha casa e comprar um carro para a minha esposa.
A fama chegou em boa hora. Silvio encontrou na religião e na dança uma forma de alegrar a vida após ter perdido os pais em um acidente de carro.
— Precisava fazer algo. Já era fã do MIchael, e sempre achei que Jesus era fonte de alegria. Por que não juntar as duas coisas? Uma vez, dançando em casa, usei passos do Michael em uma música que tinha composto, “Dia de alegria”, e o famoso gritinho, “Au!”. Meu filho adorou, e eu percebi que poderia dar certo — conta.
Além dos shows Brasil afora, Silvio também é pastor em um igreja em Campo Grande, na zona oeste do Rio. Na casa dele é fácil encontrar objetos com o rosto do ídolo. Além do relógio de parede, há porta-retratos, biografias e livros de fotos.
— Um dia, ele foi me buscar vestido de preto e arrasado. Disse que tinha que me contar algo e fiquei desesperada. Aí ele me contou que o Michael tinha morrido. Não dei muita bola porque não sou fã. Ele ficou chateado comigo, queria que eu ficasse triste como ele ficou — lembra Erica Maia, esposa de Silvio.
O pastor diz que nem todos entendem seu estilo. Muitos, diz, afirmam que dança e religião não se misturam.
— Deus é alegria. E Ele fez essa maravilha na minha vida, no momento em que mais precisava — justifica. — Só tenho a agradecer ao sapato que saiu, aos passos do Michael e a essa alegria que é Jesus.
O cantor americano faleceu em sua casa de Los Angeles, vítima de intoxicação por medicamentos anestésicos administrados por seu médico particular, Conrad Murray. Em 2011, Murray foi declarado culpado e condenado a 4 anos de prisão por homicídio culposo (quando não há intenção de matar).
Publicado em: Governo