A OAB está a serviço de quem? Será mesmo que é dos advogados?

Publicado em   01/jun/2015
por  Caio Hostilio

Itamargarethe Corrêa Lima

Jornalista, advogada e pós graduanda em Direito Tributário

oabFiquei um tanto inquieta quando na sexta-feira(22), fui à sede da seccional maranhense da OAB, no Calhau, e deparei-me com uma fila considerável de colegas, os quais ali estavam, assim como eu, para adquiri o cartão de acesso ao Fórum Desembargador Sarney Costa. Todos os operadores do direito a minha frente, de forma descontraída, jogavam conversa fora, acredito eu, achando normal aquela situação esdruxula.

Nenhum dos meus pares, com exceção de mim mesma, questionou o absurdo de sermos obrigados a adquirir um cartão, no valor de R$40,00(quarentas reais), para acesso ao Fórum e, assim, labutar na defesa dos nossos representados. E quando falo em absurdo, não faço referência ao módico valor cobrado, mas, sim, ao fato de precisarmos pagar para adentrarmos em um espaço público.

Pois bem, tal situação vergonhosa fez surgir uma pergunta inquietante: Como serei capaz de defender, brigar pelo direito de quem quer que seja, se não tenho a capacidade, a coragem de me insurgir e defender os meus direitos? Meu Deus, pensei eu cá com os meus botões, isso é antagônico, respondi a mim mesma. Estou aceitando essa afronta sem, se quer, questionar o porquê da cobrança. E fui mais além, diante da minha inércia e covardia. Terei competência para defender o direito de alguém? Perguntei-me.

Numa sequencia cronológica, outras perguntas queimaram minhas pestanas, tais como: Será que os magistrados também foram obrigados a comprar um crachá de acesso? E os representantes do Parquet, será que também foram? E os funcionários? Ora, assim como os juízes, promotores e servidores, somos indispensáveis à administração da justiça, pelo menos a nossa Carta Magna diz e o Estatuto ratifica.

Partindo deste raciocínio, devo perguntar, pois, certamente, alguém há de me responder. Por que nós devemos pagar e eles não? São melhores que nós em que? Ou será que tem uma entidade representativa mais atuante e compromissada que a nossa? E olha que nesse momento estou deixando os jurisdicionados de fora dessa indagação. Nem me dei ao trabalho de saber se, assim como nós, eles também terão que desembolsar para ter acesso ao fórum. O que seria uma vergonha sem precedentes.

Diante de tal contexto, abro um parêntese para lembrar aos nobres colegas que, em novembro, teremos o pleito eleitoral, oportunidade que iremos anuir ou repudiar esse modelo de gestão que aí está. Um modelo voltado para privilegiar uma minoria abastarda, enquanto a grande maioria amarga à orfandade. Não vamos desperdiçar essa oportunidade, do contrário, teremos que esperar mais três anos.

Mais vamos adiante. Com a alma de jornalista, claro, novas perguntas brotaram na cachola. A quem a OAB/MA serve: Aos advogados? Qual o destino que a nossa entidade classista, em tese, criada para defender os nossos interesses, dará a uma receita que pode ultrapassar a casa dos R$ 200 mil reais? Acho que temos o direito a essa informação. Você não acha?

O engraçado é que em várias matérias falando sobre o novo sistema de acesso ao fórum, divulgadas no sítio da OAB/MA, afirmava-se que o advogado, assim como os demais jurisdicionados, iriam fazer um cadastro e receber um cartão de identificação (crachá), com o qual poderia percorrer todas as dependências do Fórum, sendo necessária a devolução desse cartão / crachá na saída do prédio, salvo se o advogado “optasse” por adquirir o próprio crachá, que lhe seria repassado a preço de custo pela OAB.

Senhores, desculpa, mas, neste caso, o verbo usado não foi o correto. Não me deram opção alguma de exercer a advocacia na sua plenitude. Houve uma imposição da diretoria da OAB, com a anuência não sei de quem, pois a informação me dada foi a seguinte: Doutora, a partir de segunda-feira(25), caso a senhora não tenha o cartão de acesso, a sua entrada ao fórum não será mais permitida. Ora, daí eu pergunto: Optei ou fui obrigada a adquirir tal objeto? A resposta, até mesmo para alguém, minimamente inteligente, é obvia.

É oportuno salientar, ainda, que toda a segurança eletrônica no Fórum, digo, portas detectoras de metal, catracas eletrônicas, recepção para credenciamento e controle de acessos, tem como objetivo impedir a entrada de armas no local, e visa cumprir uma orientação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para tribunais de todo o Brasil.

Beleza. Parabéns ao CNJ, muito embora essa medida tenha como escopo proteger todos nós sabemos quem. Assim sendo, pergunto: se tais mudanças foram sugestões do CNJ, ele que arque com a fatura, não é mesmo? Já pensou se resolvesse fazer obras na minha casa, e depois mandasse a conta para você pagar? Aparentemente, parece que foi o que aconteceu.

Porém, se ocorreu o inverso, ou seja, o custo total foi suportado pelo próprio Judiciário, devo novamente indagar o porquê de a nossa entidade resolver nos cobrar essa conta? Qual será a contra prestação oferecida à classe? Estamos diante de uma taxa, tarifa ou o que? Com a palavra, o presidente Mário Macieira e CIA Ltda.

  Publicado em: Governo

3 comentários para A OAB está a serviço de quem? Será mesmo que é dos advogados?

  1. Roberto Dantas Carvalho disse:

    Caro professor Caio, permita-me opinar.
    A OAB do Maranhão nunca teve um Clube dos Advogados, nunca teve Salas de Advogados em Fóruns, jamais recebeu tantos expositores para atualização da classe, nunca foi tão atuante e diligente na defesa das nossas prerrogativas! Essa celeuma em torno de uma resolução do CNJ que disciplina o Protocolo de Segurança é válida para TODO O BRASIL e somente está sendo prolongada aqui no nosso Estado por um motivo: as eleições para a Diretoria do Conselho Seccional maranhense, que devem acontecer no mês de novembro. Portanto, peço que não se permita ser usado por um grupo de advogados que apenas tem esse objetivo! Como o grupo de Charles Dias e do dissidente Valdênio Caminho não tem nada para mostrar do que fizeram em favor da classe, fazem política baixa, escondidos por detrás desta polêmica. São mentiras e mais mentiras para insuflar e enganar a classe. A primeira delas é a de que os advogados estão sendo obrigados pela OAB/MA a comprar os cartões. Não é verdade! Peço ao senhor que confira com nosso próprio Conselho Seccional.
    Um abraço, Roberto Carvalho

  2. Vandir Bezerra Júnior disse:

    Caio, talvez você não saiba, mas a moça que assina este artigo foi assessora de imprensa do advogado Roberto Feitosa que em 2009 perdeu as eleições da OAB para o presidente atual Mário Macieira. Portanto, se isso não for intriga da oposição, já em campanha aberta para as eleições deste ano, ela não tem credibilidade para opinar. Não é à toa que a Dra. Itamargareth Corrêa Lima menciona o pleito, em novembro. Nós, advogados maranhenses temos hoje acesso ao gabinete do presidente a qualquer momento, conseguimos uma sede nova e moderna na Subseção de Imperatriz, graças ao empenho desta diretoria e muitas outras conquistas. Quem advoga em São Luís possui até transporte gratuito no carro da OAB-MA para ir aos fóruns. Todos já sabem que estes ataques aos nossos representantes partem do advogado Valdênio Caminha, aquele cabo eleitoral de Eliziane Gama que até outro dia falava mal de Sarney para conseguir uma boquinha no atual governo.

  3. Pé de Gancho disse:

    “Mais vamos adiante”. Advogada, corrija primeiro esse erro. No resto o texto está muito bonito, mas errado no conceito. Saiba que qualquer cidadão (mesmo eu que não sou advogado) pode entrar no fórum sem comprar cartão, basta identificar-se na portaria e pegar um provisório. Esta facilidade da OAB/MA é apenas para agilizar a entrada dos advogados.

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