Gastão Vieira avalia legado deixado pela Copa do Mundo

Publicado em   16/jul/2014
por  Caio Hostilio

ABAV2013_AberturaFeira_4320PM-1Um levantamento realizado pelo Ministério do Turismo revela que o país recebeu turistas de 203 nacionalidades durante a Copa do Mundo. A maioria (61%) ainda não conhecia o país e elogiou os serviços de infraestrutura e turismo. Os itens mais bem avaliados foram a hospitalidade (98%) e a gastronomia (93%).

Mais de três milhões de brasileiros (3.056.397) visitaram as cidades-sedes durante a Copa, 67% pela primeira vez. O atendimento e a receptividade foram elogiados por 90,5% dos turistas e 87,2% ficaram satisfeitos com as opções de lazer e turismo oferecidas. Os estádios foram aprovados por 92% dos brasileiros e por 98,2% dos estrangeiros.

A avaliação dos turistas domésticos e internacionais foi feita pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) respectivamente. A pesquisa ouviu 6.627 estrangeiros e outros 6.038 brasileiros desde o início do Mundial.

O deputado federal e ex-ministro do Turismo Gastão Vieira, falou sobre os números divulgados pelo Ministério do Turismo.

– Fim da Copa do Mundo, o Brasil não levou o título, mas os números revelam que o Mundial mexeu com o turismo no país e colocou o Brasil no centro das atenções. Como o senhor avalia esse resultado?

Gastão Vieira – Nós do Ministério do Turismo sempre trabalhamos com a certeza de que, mesmo com grandes obras de mobilidade urbana e com  as reformas dos principais aeroportos do país, o maior legado que a Copa deixaria para o Brasil seria para o turismo.  Os estrangeiros que viessem ao Brasil, bem tratados como foram, gostando do país como gostaram , haveriam de retornar e se transformarem, a curto prazo, em divulgadores muito importantes da imagem do Brasil para outras pessoas.

Por outro lado, a visibilidade do país, quase dois bilhões de telespectadores que acompanharam, não apenas os jogos, mas durante a final quando foi exibida a lindíssima imagem do Cristo Redentor perto do Estádio do Maracanã, o contorno da Baía da Guanabara, tudo isso serviu para consolidar aquela nossa expectativa de que o grande legado seria efetivamente, o mundo descobrir o Brasil como destino turístico importantíssimo, atraente e que, acima de tudo sabe receber muito bem os seus turistas.

– Em relação às obras de mobilidade, como o senhor viu o fato de algumas não terem sido concluídas, o que o senhor espera daqui pra frente com o fim do Mundial?

Gastão Vieira – Eu acho que, embora sempre existisse oferta de recursos, nem sempre os governos estaduais e municipais investiram em obras de mobilidade urbana. Os estados e os municípios não se interessavam ou se deixavam vencer pelas primeiras dificuldades. Com os preparativos para a Copa esse jejum foi quebrado e as obras de mobilidade saíram do papel. Esse é um legado importante, as obras que ficam.

A Transcarioca, esperada há 30 anos, agora é uma realidade, a ampliação de várias linhas de metrô também. Enfim, o país ganhou tanto na mobilidade urbana quanto na questão dos aeroportos, que vão atender bem os brasileiros, e eu estou falando de quase 10 milhões de embarques e desembarques que ocorreram durante o mês da Copa do Mundo. Mas tudo isso é menor que aquilo que o turismo efetivamente recebeu como lucro com a Copa do Mundo. Os números do turismo, os dados de consumo, a movimentação, aquilo que os turistas gastaram no Brasil, tudo isso superou a melhor expectativa. Portanto, do ponto de vista do turismo ou do ponto de vista da estratégia de turismo essa Copa do Mundo foi imbatível inegavelmente, é um marco  no caminho brasileiro para o futuro.

Mas é bom lembrar, como a seleção, nós temos várias deficiências em infraestrutura turística e nós acompanhamos isso desde o momento que chegamos ao Ministério. Nós precisamos, portanto, cuidar com seriedade, com responsabilidade, com presteza e muito planejamento de algumas questões. A formação de uma mão de obra especializada na área de prestação de serviços, pois não dá só para improvisar.É preciso que os cursos de Turismo do Brasil, tanto das instituições públicas quanto das privadas, que eles se adaptem aos novos tempos, disponibilizem aos alunos condições de aprender aquilo que o mercado vai exigir deste profissional quando ele estiver no mercado de trabalho. Ele precisa ir para o exterior, e nós iniciamos isso quando fomos ministro do Turismo, e aprender com os países que já fazem isso há muito tempo, e muito bem, como se faz um turismo sustentável, não na questão ambiental apenas, mas naquele em que o turista é bem recebido desde o dia que chega até o dia que vai embora.

É preciso ter programas de línguas muito fortes, nenhum país monoglota consegue atingir um nível de atendimento ao turista muito elevado. Precisamos melhorar o atendimento nos hotéis, é preciso modernizar a gestão do setor de turismo. Portanto, é preciso também mudar e melhorar o modelo de gestão, ou seja, o Brasil é um enorme potencial turístico, nós provamos agora que somos capazes de atender milhares de turistas muito bem, mas é preciso entender que não é a improvisação que vai determinar o nosso futuro, é preciso trabalhar o futuro de forma permanente, de forma responsável, de forma interessada para que o Brasil efetivamente possa dizer que a Copa lhe deixou um grande legado e que o país soube aproveitar.

– Em relação aos preços dos voos e hotéis, o senhor acha que ficou dentro do que estava previsto?

Gastão Vieira – É claro que ficou dentro do esperado, isso é uma questão de mercado, uma questão econômica, como é muito claro também que aqui e ali um hotel ou uma companhia aérea inflou o preço da sua diária, o preço da sua passagem. Quando é que eles iriam aumentar? Aumenta quando tem uma demanda, quando tem uma pressão de demanda que é maior do que é a oferta.

O grande problema é que todo mundo dizia que ia ser a regra e foi uma exceção, pois os preços das passagens durante o período da Copa, no dia dos jogos, não ultrapassaram aquele limite razoável que o mercado reage quando há uma especulação de busca de oferta por parte do consumidor. Então tudo ficou dentro do padrão, dentro daquilo que nós esperávamos. Agora, é preciso alinhar uma política junto com o setor hoteleiro, junto com os restaurantes, junto com as empresas aéreas para que a gente continue aprimorando esses serviços. Eu volto a dizer, os mais de um milhão de turistas estrangeiros que vieram para a Copa do Mundo não significam muito diante dos milhões de brasileiros que vão continuar viajando pelo nosso país. Nós temos um problema de demanda interna, mais até do que de demanda externa, e nós demos conta. Agora não dá mais para improvisar, a Olimpíada de 2016 vai ser um bom teste da cidade do Rio de Janeiro para que a gente faça as coisas com responsabilidade e não fique torcendo para dar certo. Dá certo porque nós trabalhamos para dar certo e não dá certo porque Deus ajudou e deu certo, isso deve ser mudado definitivamente.

– E sobre o resultado da Copa do Brasil?

Gastão Vieira – Eu penso que esse é um momento de não encontrar culpados, porque quando você encontra rapidamente um culpado você deixa de fazer aquilo que é necessário para que nunca mais você precise encontrar um culpado. Portanto agora culpar o Felipão, descobrir os seus erros, erros de convocação, erros de disciplina, erros de esquema tático, não interessa nada ao país. O que fica é o exemplo alemão, não apenas de terem sido campeões, mas porque depois do fracasso que eles tiveram na Copa da União Europeia eles mudaram a estrutura do esporte na Alemanha permitindo, portanto, colher os frutos que eles colheram sob todos os aspectos agora nessa Copa do Mundo.

O Brasil precisa começar a ter um planejamento mais efetivo, apostar nas divisões de base, os clubes precisam se organizar e se tornar rentáveis e eles já têm o melhor instrumento pra isso que são os belíssimos estádios que foram aprovados pelos torcedores da Copa. Só isso já representa 50% da mudança que se pretende fazer. E acima de tudo, ter a certeza de que já não somos mais esse exemplo de futebol, mas continuaremos a ser a maior fábrica de talentos futebolísticos que o mundo já viu.

E nesse momento em qualquer várzea, em qualquer município brasileiro há um menino despontando e fazendo com uma bola coisas maravilhosas. É descobrir esse menino, trazê-lo para um programa de formação, não deixá-lo ir para o exterior antes da hora, dar oportunidade de subir nas categorias de base para a categoria principal. A seleção brasileira, que perdeu a Copa do Mundo, não tinha nenhum jogador da seleção campeã sub-20 da América Latina, ninguém aproveitou nada.Então precisamos parar com essa mania de endeusar determinados jogadores e endeusando estes jogadores acharmos que resolvemos tudo.

  Publicado em: Governo

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