Juiz Fernando Mendonça fala a Agência Brasil com muita lucidez…

Publicado em   08/jan/2014
por  Caio Hostilio

fernandoIndicado para assumir a coordenação do Grupo de Monitoramento Carcerário do Tribunal de Justiça do Maranhão, o juiz da Vara de Execuções Penais Fernando Mendonça considera “um tiro no pé” a transferência de líderes e integrantes de facções criminosas que cumprem pena no sistema prisional maranhense para presídios federais em outros estados.

A medida foi proposta pelo Ministério da Justiça após detentos do Complexo Penitenciário de Pedrinhas, em São Luís, ordenarem ataques a ônibus e delegacias da capital, e prisioneiros do complexo serem assassinados. O governo estadual aceitou a proposta e está selecionando quem irá para outras localidades, mas, por razões de segurança, não revela quando isso deve acontecer.

“Estamos dando um tiro no pé”, disse o juiz à Agência Brasil. Para o magistrado, o risco de transferir presos de um estado para outro é facilitar o convívio entre membros de diferentes grupos, permitindo a troca de experiências e a capacitação criminosa. “O sistema carcerário brasileiro é hoje responsável pela capacitação, profissionalização e doutorado do crime. Isso no país inteiro”, afirmou.

De acordo com Mendonça, a proposta de transferir presos violentos ou perigosos surge cada vez que problemas como esse ocorrem. No Maranhão, a medida foi proposta em 2002, quando vários presos do mesmo complexo penitenciário foram mortos durante uma rebelião. Segundo Mendonça, a ideia não se concretizou, devido à resistência de magistrados e de outras autoridades. Duas celas de segurança máxima foram, então, criadas para abrigar os presos mais perigosos e violentos.

“Batemos o pé e dissemos que não mandaríamos os presos para fora. Com isso, conseguimos evitar, por quase cinco anos, que as facções criminosas se consolidassem no estado”, disse o magistrado ao explicar que, a partir do final de 2007, presos maranhenses começaram a ser transferidos para outras unidades da Federação. “Depois disso, eles voltaram especializados, recrutados pelas organizações criminosas, e começaram a criar células criminosas que terminaram por gerar as atuais facções que atuam no estado.”

Para o magistrado, uma opção seria transferir as presas da Penitenciária Feminina em Pedrinhas para outro estabelecimento e usar o local para abrigar os presos, em vez de levá-los para outros estados. Construída a partir de 2007, a unidade feminina tem 210 vagas. “Boa parte das mulheres poderia cumprir pena em prisão domiciliar. As demais são de baixa ou média periculosidade”, ressaltou Mendonça, que disse ter apresentado a ideia à Secretaria de Segurança. “Eles disseram que o Depen [Departamento Penitenciário Nacional, do Ministério da Justiça] não permitiria, pois [os recursos federais usados na construção da penitenciária] foram autorizados para o presídio feminino. Isso é impensável em uma situação como a que estamos vivendo.”

Para ele, a situação do sistema carcerário maranhense é resultado de uma “gestão amadora”. “Historicamente, a gestão penitenciária tem sido feita por pessoas que não têm a qualificação técnica adequada. Até este ano, não tínhamos uma escola de gestão penitenciária, o que prejudicava a formação de agentes penitenciários e de diretores de presídios”. Os problemas, no entanto, não se limitam ao estado, apesar de o Maranhão apresentar alguns dos piores indicadores sociais do país. “É um problema do país”, resumiu, ao elogiar o atual secretário estadual de Justiça e Administração Penitenciária, Sebastião Uchoa.

Segundo o magistrado, a “contaminação” de funcionários do sistema explica como armamentos, drogas e celulares continuam sendo encontrados no interior do presídio, mesmo após a chegada da Força Nacional e da Polícia Militar. “Este ano estamos vendo coisas que estão se repetindo o tempo inteiro desde 2002, quando houve uma primeira grande rebelião, com a morte de mais de uma dezena de pessoas e a decapitação de três presos. Houve um intervalo, uma nova rebelião violenta em 2009, mais duas em 2011 e essas recentes.”

De acordo com Mendonça, mais de 12 mil mandados de prisão aguardam cumprimento no estado. É quase o dobro do total de presos maranhenses. Com 24 estabelecimentos prisionais, o estado tem cerca de 5,5 mil presos. O déficit prisional, de acordo com o juiz, chega a quase 2 mil vagas. Só Pedrinhas, que dispõe de 1,7 mil vagas, abriga cerca de 2,2 mil presos. Mendonça informou que em torno de mil presos cumprem pena em delegacias de polícia.

  Publicado em: Governo

3 comentários para Juiz Fernando Mendonça fala a Agência Brasil com muita lucidez…

  1. valdete raposo disse:

    Caro Caio, você entende agora porque sou decepcionado com a nossa classe política? Situações como essa nos trazem certa revolta, pois essa tentativa de se politizar o drama de uma família beira o absurdo. Infelizmente esses são os políticos que temos a nossa disposição e aqui verifico que tanto Situação e Oposição se confundem, pois a prática é igual, vide o que também fizeram o senhor Ricardo Murad e o seu filhote vereador. Acredito que já passa da hora de uma renovação na classe política do Maranhão, mas uma renovação de verdade, não essa onde temos a perpetuação, através dos filhos, das raposas velhas (fichas sujas) que não puderam se candidatar por motivos óbvios e dos mesmos nomes que adotaram a política como emprego. Fico a imaginar, todos os que aí estão não apresentam nenhum tipo de proposta eficaz para acabar com o quadro de caos instalado na nossa sociedade, considerar Flávio Dino como novo, não me parece real, basta olhar a origem política da sua família e a sua ânsia de chegar ao poder, inclusive com o seu surto repentino de amnésia, que lhe fez esquecer o quanto ele considerava João Castelo um atraso. Considerar válida a proposta da Governadora Roseana de aumentar o número de presídios para acabar com a superlotação carcerária e assim diminuir a violência? Na minha humilde opinião soa estranha essa proposta, pois entendo que mais eficaz seria garantir uma Educação de base com qualidade, educação essa que permitiria o acesso às oportunidades de empregos e consequentemente o afastamento da vida de criminalidade, acredito que essa seria a melhor maneira de se diminuir a população carcerária ou você não concorda. Há se estranhar nesse momento o silêncio da deputada Eliziane Gama, a quem reporto uma raríssima exceção nos quadros políticos que temos. E antes que alguém diga que sou partidário dela, antecipo e digo que não sou, apenas acredito que ela seja uma ilha nesse meio político, isto até ela me provar o contrário. Fique com Deus, um abraço!

  2. Henrique Sampaio disse:

    ….

    Resp. Esse tipo de matéria joga por terra a intenção de politizar o assunto…

  3. Eliane disse:

    Te admiro muito, homem inteligente e cheio da sabedoria parabéns que Deus abençoe vc e toda sua família.

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