Quando Herbert Vianna cantou, em meados da década de 1990, sobre os “300 picaretas com anel de doutor”, não imaginava que, quase duas décadas depois, a situação no Congresso Nacional continuaria a inspirar revolta. “A música, infelizmente, não conseguiu ficar velha”, dispara o baixista do Paralamas do Sucesso, Bi Ribeiro, em entrevista ao Correio. O músico e membros da classe artística receberam com entusiasmo e endossaram a indignação dos que exigem a extinção dos 14º e 15º salários de deputados e senadores, transformada na campanha iniciada pela atriz Maria Paula cujo símbolo é a expressão #AbaixoAMordomia. Até o momento, faltam 498 deputados desistirem da regalia.
“O que eles ganham já é muito. A gente não está rasgando dinheiro para sustentar esses caras a pão de ló”, desabafa Ribeiro — carioca, que morou em Brasília entre 1971 e 1980. Para o poeta Nicolas Behr, os parlamentares estão ferindo um dos princípios básicos da Constituição, o qual afirma que “todos são iguais perante a lei”. “Os políticos estão lá atrás, mas as demandas da sociedade estão lá na frente. Não demos a eles o poder de legislar em causa própria. No fundo, eles não passam de servidores públicos”, constata o poeta.
Os músicos Ney Matogrosso e Dominguinhos também reverberaram os questionamentos da população sobre o ganho exclusivo dos congressistas. “Os políticos precisam entender que eles não são donos do país, eles trabalham para o país e são pagos pelo povo brasileiro”, desafia Matogrosso. Dominguinhos considera o assunto tão “absurdo” que acha que não deveria nem “ser mencionado”. “Somos nós que pagamos e ninguém sabe quanto eles realmente ganham. Enquanto isso, o cidadão comum não tem direito a nada”, denuncia.
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