Você já leu “ferida aberta na terra dos bravos”?

Publicado em   30/abr/2012
por  Caio Hostilio

Do fiteiro

As informações dadas pela TV eram superficiais. Embora o Serviço Secreto, o FBI e a polícia de Dallas, juntamente com uma enorme multidão de circunstantes, estivessem presentes no cenário do crime, durante pelo menos duas horas as vozes tensas dos repórteres não forneceram nenhum fato concreto sobre o atirador ou atiradores. Contudo, ficamos como que hipnotizados pela confusão, pelas infindáveis banalidades, pela magia do espetáculo das comunicações. Preocupados com o que acontecera com o presidente e com nossa própria dor, ninguém deixou o restaurante naquela tarde. Os homens de negócios e os profissionais liberais que tinham ido almoçar cancelaram seus compromissos. Frank e eu telefonamos para o tribunal e voltamos para a sala de TV.

Foi então que, no meio da tarde, anunciaram de repente a prisão do acusado. Cerca de 15 policiais de Dallas o haviam detido, assistindo a um filme num cinema que ficava a uma distância considerável do local do assassinato. A prisão retardada estourou como uma bomba na tela da TV e com isso terminou o longo silêncio no restaurante. Podia-se sentir a repentina explosão de fúria, o ódio contra aquele rapaz antes desconhecido. Seu nome era Lee Harvey Oswald.

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As fotografias incriminadoras tinham sido encontradas na garagem de Ruth Paine em Irving, onde presumivelmente ela as estivera guardando. Quando em 21 de fevereiro de 1964, uma das fotografias explodiu na capa da revista Life, algumas pessoas concluíram que as provas contra Lee Oswald eram incontestáveis. No entanto, para a maioria das pessoas de bom senso, inclusive eu, a combinação do fuzil e do jornal comunista levantava mais perguntas do que as respondia.

À primeira vista, as fotografias pareciam ser de Lee Oswald. Entretanto, depois de examinadas com atenção ficava evidente que em cada uma delas o rosto de Oswald não se ajustava com precisão ao pescoço e ao corpo. Além disso, o rosto de Oswald aparecia exatamente igual em ambas as fotos, ao passo que a postura e a distância entre seu corpo e a câmara diferiam. Ademais, se o comprimento do rosto de Oswald fosse usado como medida, em uma das fotos o corpo era claramente mais alto do que na outra.

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Eu sabia, pelo testemunho de seus colegas do Corpo de Fuzileiros, que Oswald era notoriamente um mau atirador. Mas aquele feito seria impossível até para o melhor dos atiradores. Da toca do assassino, a primeira coisa que um atirador veria, se quisesse alvejar alguém passando de carro pela rua Elm, era uma árvore enorme, ainda cheia de folhas em pleno mês de novembro. Isso tornava improvável que o primeiro disparo houvesse atingido mais do que um galho ou um punhado de folhas.

Além disso, menos de dois minutos depois dos tiros, Oswald fora visto no refeitório do segundo andar do depósito. Não somente parecia tranqüilo, como estava bebendo uma Coca-Cola comprada numa máquina automática. Teria sido necessário que Oswald se movesse quase à velocidade da luz para executar sua façanha histórica de tiro (causando oito ferimentos em dois homens em menos de seis segundos), esconder o fuzil debaixo da pilha de caixas descritas pelo guarda Weitzman, descer quatro lances de escadas e depois comprar um refrigerante na máquina – tudo isso em menos de dois minutos e sem perder o fôlego.

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Promotor em Nova Orleans quando Kennedy foi assassinado, Jim Garrison iniciou uam investigação para levantar o que o suposto matador do presidente, Lee Harvey Oswald, fez na sua cidade nos meses anteriores ao crime que abriu uma ferida no orgulho norte-americano. Ao longo da década de 1960, Garrison acabou se convencendo que os próprios órgãos de segurança do governo (CIA e FBI), com o apoio de cubanos anticastristas, usou Oswald (que foi morto logo depois pelo mafioso Jack Ruby, mesmo cercado por muitos policiais) como bode expiatório de um complô que visava preservar a política de linha dura contra os comunistas, beneficiando as indústrias de armamentos. Neste livro de 245 páginas e letras miúdas, o promotor conta em detalhes como as provas fundamentais foram destruídas e como testemunhas importantes foram deliberadamente esquecidas. A batalha de Garrison ganhou as telas sob a direção de Oliver Stone, com Kevin Costner no papel principal. Neste caso, a justiça não foi feita.

  Publicado em: Governo

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