Embora coerente na abordagem da desencantada relação política dos jovens com os partidos políticos, a análise que repasso baixo pode induzir à falsa idéia de que os adultos têm ainda uma relação proativa com estes partidos que povoam o universo político, o que não é verdade há muito tempo. Principalmente no Brasil, onde estas agremiações tornaram-se meros espaços de manobras pessoais oportunistas ou abrigos camuflados para grupelhos e tendências que, por si só, não teriam expressão alguma.
À direita esta realidade manipuladora sempre existiu, mas, à esquerda, foi-se o tempo do sonho coletivo partidário, onde utopias comuns uniam as pessoas acima das especificidades ideológicas. O pragmatismo maquiavélico de há muito retornou como a palavra de ordem para todo o espectro político, matando o jardim dos sonhos de mudanças e/ou afastando aqueles que ainda se negam à prostituição política.
O que eram e o que são hoje os partidos de esquerda, por exemplo, a começar pelo mais antigo deles, o Partido Comunista? Que histórias construíram os partidos ao longo do tempo, a não ser uma infindável troca de nomes para maquiar os fracassos e continuar iludindo as redes sociais? E o pior: ainda culpam os eleitores quando eles elegem, em protesto, figuras excêntricas. Agem no mais claro pragmatismo partidário e culpam os eleitores quando eles elegem, também pragmaticamente (pelos resultados concretos em suas vidas), pessoas diferenciadas do ramerrão histórico em que nos mergulharam. Afastaram-se do povo com suas manobras cínicas e quando este povo escolhe alguém como líder pessoal de seus anseios, adjetivam de populismo. E a miopia destes grupos partidários é tanta, que ainda precisam fazer pesquisa para descobrir porque eles não mais catalisam a participação social…
Quando me lembro de 30 anos atrás, na época dos últimos e desesperados suspiros da participação partidária popular, revejo as ruas lotadas e democraticamente vibrantes, militantes voluntários aos milhares, adultos e jovens transpirando idealismo e certezas. Hoje, até mesmo o PT, o mais vibrante de todos e o de identificação popular mais profunda, já precisa alugar militantes para balançar bandeiras…
Gente, de há muito, todos nós nos desencantamos com os partidos. O que os jovens de hoje têm de diferente é o acesso virtual, que lhes permitiu a ampliação das redes sociais e a condução das suas próprias vontades, coisa que não tivemos ao nosso tempo de jovens sonhadores e crentes na luta popular. O resto, este lixo que denominamos de partido político, daqui a pouco não servirá nem mesmo para aterro sanitário…
Acho que um candidato virou mercadoria, o pragmático PSDB, por exemplo, contrata agências de publicidades para saber se a marca tucana está bem diante da opinião pública. Sucessivamente derrotado três vezes na tentativa de voltar à Presidência da República,o PSDB entende que errou ” na comunicação”. A agência não trabalhou direito o produto. Ou, como quer Fernando Henrique Cardoso, não focou adequadamente o consumidor-alvo. “O partido precisa aprender a vender o peixe’, diz o grão-tucano, sem piscar diante da palidez das guelras.
A transfiguração da linguagem política em clichê empresarial tornou-se uma prática suprapartidária aqui e alhures, em consonância com a supremacia da lógica financeira sobre todas as dimensões da vida social. A finança comanda e pauta a democracia, em vez de ser contrastada e regulada por esta. Os partidos sancionam a transfiguração suicida. Dissolve-se o alicerce da participação social com descrédito consequente nas organizações políticas.
Apenas me resta uma pergunta: A sociedade se afastou dos partidos ou eles se afastaram das ruas? Mas quando se fala em rua, não é com o intuito de baderna, mas sim de luta democrática, como as da “Direta Já”… Ali foi o último movimento realmente suprapartidário em prol de uma causa justa e democrática acontecida nesse país!!! Quem teve a oportunidade de vivenciar aquele movimento sabe o que é de fato o verdadeiro sentido ideológico contra qualquer tipo de arbitrariedade imposta… JHabermas
Publicado em: Governo