O deputado Gastão Vieira (PMDB), usou do grande expediente, ontem (29), da Câmara Federal, para debater sobre a matéria negativa que a revista Veja fez contra o Estado do Maranhão.
Gastão disse que foi indagado por diversos colegas parlamentares sobre sua opinião a respeito da matéria, principalmente dos seus pares da Comissão de Educação. Gastão falou da tribuna: “O que eu teria a dizer sobre matéria produzida pela revista Veja, que, transformando o Maranhão num país, mostrava de forma veemente que o meu Estado, se país fosse, teria um dos indicadores sociais mais negativos, colocando-o na relação dos mais atrasados do mundo?”
O peemedebista disse que não querer questionar a Veja, mas que tem certeza que se comparasse o Maranhão aos outros estados, com a mesma metodologia, ele teria a mais absoluta tranqüilidade de afirmar que os resultados obtidos não seriam muito diferentes. “Não seriam diferentes, e isso nos torna incentivados a buscar com um grupo de técnicos, de amigos, de colegas de geração, de colegas de Parlamento, dados do nosso Estado e tentar descobrir o que efetivamente ocorre para que não apenas o Maranhão — repito, reafirmo, essa é a tônica do meu discurso — , mas tantos outros Estados do Nordeste ainda apresentam indicadores sociais e de rendas tão ruins, motivo, diria até, de algum tipo de chacota por parte de alguns”, falou Gastão.
“Em primeiro lugar, gostaria de trabalhar o conceito de que o meu Estado é um Estado rural, muito embora tenhamos diminuído a parcela da população rural existente no Maranhão. Já tivemos mais de 50%, hoje temos um pouco menos que 50%, quando a média brasileira gira em torno de 20%. Que influência poderia ter quando se mede a renda, consequentemente o Produto Interno Bruto, o fato de uma população rural nessa medição?”, destacou o peemedebista.
Segundo Gastão, os Estados que têm uma população rural muito alta não existe praticamente como auferir a renda monetária que aquela população tem. Normalmente o IBGE, que usa e é o nosso órgão oficial que trabalha com essa questão, vai apurar a renda que pode ser apresentada no contracheque, no famoso holerite, aquela renda financeira que é aparente para o pesquisador. Será que a população do Nordeste, a população do nosso Estado, que é considerada sem renda, na verdade não tem renda nenhuma, ou não tem renda monetária, mas tem outro tipo de renda?
“O pobre trabalhador rural do meu Estado não tem computada a sua casa, a sua pequena criação de animais como renda para o IBGE… E quem anda, como nós, pelo interior deste Nordeste, e o do meu Estado não é diferente, sabe que as relações comerciais ainda se dão de maneira muito forte sob a forma de escambo”, destacou Gastão.
De acordo com Gastão Vieira, o Bolsa Família, o cartão do Bolsa Família, normalmente é entregue a um comerciante de um povoado distante. Aquele que é beneficiário do cartão vai com ele fazendo uma conta corrente, em que vai retirando produtos de primeira necessidade, cobrindo as suas necessidades até o momento em que, esgotada aquela renda, ela é renovada… O IBGE que ainda não desenvolveu uma tecnologia para apurar essa renda, que, não sendo monetária, acaba se descaracterizando na medição daquele órgão.
“Querem inventar uma justificativa? Não. O Banco Mundial, hoje, quando faz comparação entre países ricos e pobres, determina que se use um indicador chamado PPC. Esse indicador é a Paridade do Poder de Compra. O que é Paridade do Poder de Compra? Em locais mais desenvolvidos, o custo do produto, o custo do dia a dia, é muito mais elevado do que naqueles lugares onde a pobreza predomina e a renda é quase inexistente”, disse o parlamentar… O IBGE aplica simplesmente mesma metodologia do Rio Grande do Sul ao Acre.
“Nós vamos iniciar, sim, nesta Casa, Sr. Presidente, Inocêncio Oliveira, tão nordestino quanto eu, um processo para que o IBGE adote a mesma metodologia utilizada pelo Banco Mundial quando compara países ricos e pobres, regiões desenvolvidas com aquelas menos desenvolvidas. Isto seria como nós, quando auferimos o PIB brasileiro em reais e auferimos em dólares. E quando incluímos o PPC no PIB brasileiro dá quase o dobro do PIB pesquisado”, disse Gastão.
Gastão disse que fazer uma afirmação e transformá-la numa matéria de jornal, de revista, que denigre a imagem, não apenas da sociedade e do Estado, como de toda a sua classe política, exige um rigor científico, exige, como toda a tese científica, como todo trabalho acadêmico… Eu não vou aqui, Sr. Presidente, cair nessa dicotomia de que no meu Estado ou se bota a culpa de tudo o que acontece no Senador Sarney ou se diz que tudo de bom que acontece no Estado é produto do Senador Sarney. Acho medíocre essa comparação e nela não embarcarei. Tenho razões especiais para, como maranhense, tentar avançar nessa discussão, tentar levar essa discussão para as universidades do meu Estado, para todos aqueles que tenham uma capacidade de entendimento do que ocorreu ao longo do tempo no meu Estado” argumentou Gastão.
“Devo dizer que na questão educacional não há diferença entre o Maranhão e o restante do Brasil, na questão educacional não há diferença profunda, uma diferença estruturante, de um Estado para outro, não há nenhuma diferença. Temos uma educação brasileira que carece de políticas educacionais estruturantes e isso se reflete no meu Estado, em outros Estados do Nordeste, em alguns Estados do Leste, com certeza se reflete, para resumir, no País como um todo” falou Gastão.
Num aparte, o deputado Júnior Coimbra disse que se solidarizava com o deputado Gastão Vieira com a campanha difamatória que a revista Veja faz ao Maranhão… Sou representante pelo Estado do Tocantins, mas tenho um profundo respeito e uma admiração pela cultura e pela gente maranhense. Isso é apenas uma campanha difamatória contra o grande líder José Sarney.
Em outro aparte, o deputado Benjamin Maranhão disse existir uma campanha da imprensa nacional de sempre apontar toda a origem das mazelas nacionais no Nordeste. Esquece a imprensa nacional de divulgar o índice de crescimento do Nordeste. Não digo só índice de crescimento econômico, já que o Estado do Maranhão é um dos grandes pólos de crescimento deste País, é um Estado de muito futuro, de terras férteis, de grande potencial minerador. Há outro lado, o cultural. A revista Veja deveria ver o grande incremento, nos últimos anos, do número de estudantes universitários no Estado do Maranhão, bem acima da média nacional, coisa que ocorreu em todo o Nordeste brasileiro. Nós conhecemos o Estado e o homem público José Sarney, o trabalho que já fez pelo País como Presidente da República, bem como a serenidade com que conduz o Senado da República.
Já o deputado Deley disse que não se pode limitar o debate da educação se referindo a a ou b. Esse é um desafio do Brasil. E V.Exa., com toda a sua sabedoria, pode muitas vezes nos ensinar o caminho para fazermos um país mais igual. Parabéns!
Para Gastão, a política de incentivos fiscais da SUDENE e da SUDAM e a tentativa de atrair industriais do Sul para o Nordeste brasileiro tinham transformado o Nordeste em uma região quase sem esperança. Mas, no meu Estado, no início da década de 90, investimentos de 7 bilhões de dólares impulsionavam a região: uma estrada de ferro que saía dos minérios do Carajás, atravessava em 80% o nosso Estado e chegava ao porto onde a Companhia Vale do Rio Doce iria transportar o seu minério de ferro, onde a ALCOA no Brasil iria transportar a sua alumina e o seu alumínio.
“Mas precisamos, sim, de políticas estruturantes, principalmente na área de educação. No Brasil, infelizmente, o que está puxando a educação é o crescimento econômico; não é a educação que está ocasionando o crescimento econômico”, finalizou Gastão Vieira.
Por fim, o presidente falou: “Meus parabéns ao ilustre Deputado Gastão Vieira pelo grande pronunciamento que acaba de proferir”.
Publicado em: Governo