São Luís e suas utopias natimortas

Publicado em   16/jun/2011
por  Caio Hostilio

Tornou-se lugar-comum dizer que São Luís é a única capital não lusitana do Brasil, que é a Atenas brasileira, a Ilha do Amor, pois esses elogios se tornaram coisas do passado e já estão natimortas. Os políticos que a administraram ignoraram o horizonte e limitaram os sonhos ludovicenses.

 Todos que passaram pela Prefeitura de São Luís, em suas campanhas eleitorais, Vislumbraram uma cidade movida pela vanguarda, capaz de concretizar utopias. Mais: os ares da capital soprariam o atraso para além-fronteiras.

 Praticamente com 400 anos. Comparados com os 473 de Salvador, 457 de São Paulo e 446 do Rio, a urbe dos arcos e pistas está velha. Talvez tenha nascido velha. Ph.D. nos vícios que mantêm o país distante das nações de fato desenvolvidas, São Luís nada de braçadas nas águas turvas das mazelas que seus governantes quiseram apagar.

 Três verbos fazem a festa. O primeiro: concentrar. Concentramos a terra e a renda. Mansões construídas em lotes de 20 mil m² abrigam o mesmo número de pessoas que se apertam em quartinhos de 5m² ou 10m². Hoje, São Luís tem o mesmo antagonismo das grandes cidades brasileiras, onde os ricos moram ao lado de bolsões de pobreza que humilham e apequenam.

 O segundo: afastar. Diante do crescimento desordenado, empurramos o pobre pra periferia — senzala, favela, cadeia. Mas não apagamos da Constituição o direito de ir e vir. Resultado: vistos como mal-educados, malvestidos, malcheirosos, mal nutridos e mal tudo, os excluídos povoam ruas e pesadelos. O espectro há muito deixou de ser exclusividade do Coroadinho, Santa Barbara etc. Hoje bate às portas do Olho D’Água, Calhau, Ponta da Areia e Renascença.

 Além dos custos materiais, quantificados em perdas de vida, saúde, bem-estar, a violência traz prejuízos emocionais. Vivemos em clima de medo. Os muros altos deixaram de garantir a segurança. Presídios não resolvem. E custam caro. O jeito é agir. Buscar soluções criativas que incluam em vez de marginalizar.

 Como? O terceiro verbo entra em cartaz. Trata-se de reproduzir. Tiramos xerox de políticos que não pensam além da próxima eleição. A Câmara de Vereadores rivaliza com a Gaiola de Ouro. O Palácio La Ravardière, assim como os palácios das demais unidades da Federação.

 Copiamos modelos de desenvolvimento predatórios. A cidade cresce sem lei e sem ordem. Prédios invadem áreas verdes, carros afogam o asfalto, a água escasseia, hospitais matam, escolas nivelam por baixo. Em suma: filho de peixe peixinho é. O sonho dos prefeitos de São Luís? É utopia — vanguarda natimorta.

  Publicado em: Governo

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