A atividade política, nos dias de hoje, é despolitizada e convertida em uma prática de mercado. Tanto isto é verdade que se fala em marketing político. Reduziu-se a nada mais do que uma negociação e barganha de certos grupos junto às massas na competição pelos postos de governo.
A opinião pública, no senso comum, é fruto do debate de idéias conflitantes estabelecida através do discursos, reflexões e ponderações de grupos, indivíduos e especialistas.
No entanto, atualmente inexiste uma verdadeira opinião pública. O que temos é a aparente opinião pública fabricada nos meios de comunicação. Sob os imperativos da comunicação de massa, a opinião pública passou a se identificar com os resultados da “sondagem de opinião”.
Acontece, no entanto, que do ponto de vista lógico a sondagem não capta a opinião, mas o que está escondido, emudecido no espaço privado: Agora, entende-se por opinião o fundo emocional silencioso que é atraído à superfície pela fala do ‘sondador’. De reflexão e ponderação em público tornou-se o grito inarticulado que se dirige ao e contra o público – desabafo dos sem-poder captado pelo mercado político para ser convertido em ‘demanda social’ e para ser trabalhado pelas ‘elites’ a fim de convertê-lo em mercadoria oferecida pelos partidos aos cidadãos.
Fabricação da opinião pública é uma sondagem, que visa também produzir opiniões, pretensamente racionalizando as emoções. Acaba por orientar o povo conforme sua própria forma de pensar.
É certo que os meios de comunicação são garantia da liberdade de expressão, da liberdade de informar-se e de informar. Mas também são meio de poder, e podem converter-se em instrumento de manipulação.
A pior manipulação dos nossos dias é a do esvaziamento da reflexão, é a da instauração do darwinismo da comunicação: a sensação de que em matéria não técnica tudo é opinável e devemos considerar a opinião de todos.
Gregório Marañon já nos dizia: “as massas movem-se pela emoção, pelas sugestões dos gestos, quer dizer, pela simpatia ou antipatia, e, jamais, pela reflexão”. É assim de fato, pois o receptor recebe a mensagem, se interessa por ela, mas não a entende, nem tenta a compreender, e a processa acriticamente, como uma verdade inatacável.
Publicado em: Governo