Popular na cidade, o blogueiro mantém perfis nas redes sociais nos quais faz oposição à família de Juscelino, que há anos domina a cena política local. O pai do ministro, uma espécie de coronel na região, foi prefeito. Hoje o cargo é ocupado por Luanna Bringel, irmã de Juscelino.
Uma das ameaças foi feita por um funcionário da prefeitura ligado à família do ministro — nas redes, esse mesmo funcionário aparece em dezenas de fotos ao lado de Juscelino e da prefeita Luanna Bringel (veja na galeria).
A ameaçaMagno de Oliveira, o blogueiro, tem 13 mil seguidores no Instagram — um número considerável para uma cidade que, ao todo, tem 31 mil habitantes.
Ele critica frequentemente a gestão da irmã de Juscelino. Não raro, envolve o nome do próprio ministro.
Em março, logo após fazer mais uma postagem com menção a Juscelino Filho, o blogueiro recebeu dois áudios e nove mensagens de Romerito da Conceição, o tal funcionário amigo da família do ministro, contendo o que ele entendeu como ameaças.
“Procura que você acha, viu?”, dizia. “Se tu marcou o (perfil de) Juscelino Filho (na publicação) eu quero que ele veja isso aí. Um dia desses um cara ia te matando com uma facãozada na cara que uma hora ou outra tu vai achar para ti. Tu vai achar e vai ser bem empregado para ti. Aí agora tu tá procurando conversa com Juscelino Filho. Eu acho que tu agora vai se banhar direitinho”, afirmou ainda o amigo da família do ministro, em um dos áudios.
Ouça:
Além de ser próximo à família de Juscelino Filho, o funcionário público é bastante engajado na defesa do clã: em suas redes sociais, costuma fazer propaganda para o ministro, para a irmã dele e para outros políticos ligados ao grupo.
Queixa do blogueiro desapareceu
Foi justamente depois de receber os áudios e as mensagens do amigo da família do ministro que o blogueiro decidiu prestar queixa. O boletim de ocorrência foi registrado ainda no mês passado, na delegacia da cidade. Mas, curiosamente, desapareceu do sistema.
Só nesta semana, depois de a Secretaria de Segurança do Maranhão ser questionada sobre o assunto, o registro foi localizado.
Também depois de a coluna procurar as autoridades do Maranhão, o delegado de Vitorino Freire, Rildo Portela, intimou o blogueiro para prestar depoimento, sem esclarecer os motivos.
Ainda em março, em um grupo de WhatsApp popular conhecido na cidade, Magno publicou um vídeo reclamando da falta de calçamento em uma rua. Romerito, o mesmo aliado da família, respondeu.
“Vish, rapaz, já apareceu outro jornalista. Esse aqui é fácil de resolver, que mora por aqui mesmo. Os outros (jornalistas) era mais ruim, porque era de longe (sic). (…) Acho que esse (referindo-se a Magno) tá querendo ganhar… querendo um ‘pin pin'(sic)”, escreveu Romerito, comparando a situação do blogueiro à de repórteres de fora do Maranhão que haviam publicado, dias antes, reportagens com denúncias contra Juscelino Filho.
Magno diz que também foi ameaçado presencialmente, enquanto circulava pelas ruas da cidade. Desta vez, por outra pessoa ligada à prefeitura comandada pela irmã do ministro. “Tem espaço para mais um no cemitério”, ele diz ter ouvido.
O blogueiro deixou o Maranhão em 14 de abril. Segundo ele, por medo de que as ameaças fossem concretizadas. “É o fim do mundo quando alguém se levanta contra aquela família. Ninguém tem coragem. Eles agem como se fosse um cartel, como se fosse uma gangue”, afirma.
O que dizem os envolvidos
Romerito Conceição, o funcionário da prefeitura que enviou os áudios e mensagens para o blogueiro, disse inicialmente que é amigo da família da prefeita, mas depois recuou. Afirmou ser apenas “conhecido”, apesar de aparecer em diversas fotos ao lado de Luanna Bringel e do próprio Juscelino. Ele nega a intenção de ameaçar o blogueiro.
Ao ser procurado pela primeira vez pela coluna, o delegado da cidade respondeu que não encontrou o registro da ocorrência feito por Magno. E ainda fez juízo de valor sobre o blogueiro, que classificou como “muito complicado”.
“Quase toda semana ele registra dois, três (boletins), e as pessoas registram contra ele. Ele arruma confusão com várias pessoas”, disse o delegado, que logo após ser contatado intimou o Magno a comparecer à delegacia.
Indagado se a intimação tem a ver com a denúncia de ameaça, não respondeu mais.
O boletim com o registro da ameaça só foi localizado após a Secretaria de Segurança do Maranhão, em São Luis, ter sido questionada — ainda assim, o documento apareceu apenas 24 horas depois. A Secretaria atribuiu o sumiço a uma “instabilidade no sistema” nas últimas semanas.
Juscelino Filho disse não ter ciência das ameaças. “O ministro declara que desconhece o caso e, portanto, não pode ser responsabilizado por fatos de terceiros”, disse, por meio da assessoria de imprensa do Ministério das Comunicações.
A prefeita Luanna Bringel também foi procurada, mas não respondeu às tentativas de contato.
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