Pré-candidato à Presidência da Câmara preterido no bloco do atual presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o deputado Elmar Nascimento (DEM-BA) trocou de lado e se juntou a Arthur Lira (PP-AL). O bloco de Maia do qual o DEM faz parte escolheu Baleia Rossi (MDB-SP) como candidato ao comando da Câmara e tem em Lira, líder do centrão bolsonarista, seu principal adversário.

Elmar Nascimento, inclusive, está na comitiva de Lira pelo Norte do país para conseguir mais votos ao candidato apoiado pelo Palácio do Planalto. Hoje o grupo passa por Macapá e Belém. Amanhã deve ir a Boa Vista e Manaus.

Elmar e Lira são grandes amigos e até já viajaram juntos com as respectivas famílias a passeio. Mas, não foi somente isso que pesou. Elmar se sentiu traído pela maneira como as negociações para emplacar Baleia Rossi foram conduzidas, assim como parte da bancada do DEM na Câmara.

Procurado pela reportagem, Elmar disse preferir falar do futuro e que Maia fez “as escolhas dele, eu faço as minhas”. Ele negou trabalhar com mágoa ou rancor. “Apenas ouvi meus amigos”, acrescentou.

Antes de se tornar pré-candidato no bloco articulado por Maia, Elmar foi uma das principais figuras em torno da disputa pelo comando da Comissão Mista de Orçamento justamente contra Lira. Este queria emplacar a deputada Flávia Arruda (PL-DF). No final das contas, ninguém venceu a queda de braço e o projeto da Lei Orçamentária Anual de 2021 ainda não foi aprovada pelo Congresso Nacional.

Embora o DEM faça parte do bloco de Baleia, sua bancada na Câmara está dividida e não deve entregar a ele todos os votos dos 28 deputados federais. Sob reserva, um parlamentar do partido afirmou que o número de traições pode chegar a 20 deputados. O voto é secreto. Há ainda a possibilidade de os ministros Tereza Cristina (Agricultura) e Onyx Lorenzoni (Cidadania) voltarem aos postos de deputados apenas para a votação.

Além disso, há no DEM quem ressinta a aliança de Baleia com a esquerda, especialmente com o PT. Para esses deputados, Baleia pode acabar não implementando um programa de centro-direita e ter de ceder demais a interesses da oposição, se eleito, para assegurá-la ao seu lado.

Caciques do DEM – como o próprio presidente nacional do partido, ACM Neto, e o líder da bancada na Câmara, Efraim Filho (PB) – se encontraram com Arthur Lira no ano passado para discutir sua candidatura.