Para quem pensa que os votos de Lula vão para a Haddad!!! Ele só recebe 11,9% desses votos, segundo a CMT/MDA…

Publicado em   28/ago/2018
por  Caio Hostilio

Por BBC NEWS

Em termos de propostas políticas, Jair Bolsonaro (PSL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) estão em lados opostos na disputa eleitoral. Mas Marcos Alberto Monteiro, de 51 anos, está disposto a saltar de um “extremo ao outro” na eleição presidencial de outubro. E ele não é o único – integra os 6,2% de eleitores do petista entrevistados pela última pesquisa CNT/MDA que dizem que migrariam o voto para o deputado caso a candidatura do ex-presidente seja cassada com base na Lei da Ficha Limpa.

Motorista há 23 anos, Monteiro nasceu na Paraíba e atualmente mora em Brasília. Argumenta que tem simpatia pelo ex-presidente porque sua família, que mora no interior da Paraíba, melhorou de vida durante os dois mandatos do petista.

“Todo mundo ficou com televisão e internet em Catolé do Rocha. E botaram energia em todos os sítios”, justifica. Durante os dois mandatos de Lula (2003 a 2010), anos de crescimento econômico na América Latina como um todo, foram adotadas medidas de acesso ao crédito e estímulo ao consumo interno, além de programas de transferência de renda.

Mas Monteiro deixa claro que gosta especificamente de Lula – não tem simpatia especial pelo PT, não se considera de esquerda e acha que a situação do país voltou a piorar durante o governo Dilma Rousseff.

“Eu voto na pessoa dele (Lula). Não é o partido. Se ele indicar outra pessoa, eu já não voto. Se Lula não for candidato, eu voto no Bolsonaro”, afirmou à BBC News Brasil.

Na última pesquisa CNT/MDA, divulgada no último dia 22, os entrevistados que tinham Lula como primeira opção foram questionados sobre em quem votariam caso o ex-presidente seja impedido de concorrer, sendo substituído pelo ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT), atual vice na chapa.

Nesse cenário, metade dos eleitores de Lula entrevistados se disseram indecisos ou inclinados a votar em branco/nulo. Da outra metade, 17,3% votariam em Haddad, 11,9% iriam para Marina Silva (Rede), 9,6% apostariam em Ciro Gomes (PDT) e 6,2% responderam que, se o líder petista não concorresse, migrariam o voto para Bolsonaro. Na prática, o deputado do PSL ganharia 2,3 pontos percentuais.

O que explica essa migração de votos de um candidato visto como de esquerda para outro de direita?

Cientistas políticos ouvidos pela BBC News Brasil afirmam que há uma lógica por trás da migração de eleitores de Lula para Bolsonaro.

Segundo o professor da Universidade de Brasília (UnB) Lucio Rennó, o perfil desse eleitor é o de pessoas de classe média baixa que sentiram melhorias no governo Lula, mas que não são de esquerda, nem têm compromisso de lealdade com o PT.

Ao mesmo tempo em que enxerga no ex-presidente a lembrança de tempos melhores, essa parcela do eleitorado se identifica com o discurso de Bolsonaro em prol da “ordem” e da “tolerância zero” com o crime.

© AFP

 Segundo cientistas políticos, discurso de tolerância zero com o crime e de retorno da ordem atrai eleitores de Lula que sofrem mais diretamente os efeitos da violência

“É uma parcela do eleitorado que vive nas periferias e que está descontente com a classe política por conta dos escândalos de corrupção e dos altos níveis de violência que afetam, principalmente, as áreas periféricas”, diz Rennó.

“Quem tem conseguido dialogar diretamente com esse eleitorado é Jair Bolsonaro. Ele fala a língua desse eleitorado e faz isso com naturalidade.”

O perfil de quem migraria de Lula para o Bolsonaro é diferente daquele dos eleitores cativos do deputado que, segundo as pesquisas de opinião, são sobretudo pessoas com ensino superior e renda alta.

Morador de Taguatinga – região administrativa de Brasília com 250 mil habitantes –, Marcos Alberto Monteiro diz que sua principal preocupação é com a violência. Ele explica que optará por Bolsonaro, caso Lula não concorra, porque se identifica com a proposta do deputado de facilitar o acesso a armas.

“Ele falou que o cidadão de bem vai poder comprar a arma e tirar o porte. Hoje em dia, quem pode andar armado é bandido e polícia. Se a pessoa invade a casa da gente, ele amarra todo mundo e faz o que quer. Se o bandido souber que pode ter arma na casa das pessoas, ele vai agir diferente”, diz o motorista de 51 anos.

A pesquisadora em ciência política Carolina de Paula, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), reforça que segurança e emprego serão alguns dos temas centrais nas eleições, e que Bolsonaro pode captar eleitores de Lula mais vulneráveis aos efeitos do aumento da criminalidade.

“O eleitorado do Bolsonaro precisa ser pensado de forma mais heterogênea. Não é só um eleitorado conservador. É uma pessoa que está insatisfeita, que quer mudança e que se preocupa com a violência e o desemprego”, diz.

“É uma pessoa que sente que o Brasil piorou, está descrente com a política e tem saudade do tempo de Lula. Essa pessoa votaria no ex-presidente na esperança de voltar a este tempo. E migraria o voto para Bolsonaro também com essa expectativa de mudança.”

Os cientistas políticos alertam que os padrões de transferência de voto podem mudar com o começo da propaganda eleitoral na TV e quando Haddad for apresentado oficialmente como candidato do PT. Como a candidatura de Lula ainda será julgada pela Justiça Eleitoral, o ex-prefeito ainda é apresentado como vice na chapa.

Por enquanto, a principal beneficiária da transferência de votos de Lula é Marina – citada por 11,9% dos eleitores como alternativa de voto depois do ex-presidente.

Segundo pesquisa Datafolha divulgada na última quarta, no cenário em que Lula é substituído por Haddad, Bolsonaro passa à dianteira com 22%, seguido por Marina (16%), Ciro (10%), o tucano Geraldo Alckmin (9%), Álvaro Dias (4%) e Haddad (4%).

Segundo Carolina de Paula, por ter sido candidata à Presidência duas vezes (em 2010 e 2014), Marina é beneficiada pelo chamado “recall” – quando os eleitores optam por nomes que já conhecem. Segundo o Datafolha, depois de Lula, Marina é a candidata mais conhecida, por 93% dos entrevistados.

“A rejeição da Marina é uma das mais baixas, e o recall dela de 2014 é considerável. É a pessoa mais conhecida desse eleitorado. Como é um período em que as pessoas não viram quase nada dos programas eleitorais, elas não conhecem os candidatos”, diz a cientista política. “Muita gente cita o nome que vem à mente. Marina é mais conhecida.”

Lucio Rennó, da UnB, dá outra explicação para a transferência de votos de Lula para Marina. Segundo ele, a candidata da Rede seria capaz de agregar parcelas dos eleitores tanto de esquerda quanto os mais conservadores por adotar um discurso conciliador e ser “multifacetada”.

“A posição dela é a de achar um meio termo, de uma certa moderação. Ela tem um componente religioso que influenciou votos no passado. Foi militante do PT e tem o lado ambientalista. Essa ambivalência permite atrair eleitores com perfis distintos, tanto ideológicos quanto pragmáticos”, diz. “Por isso, Marina tem herdado parcela relevante dos votos que iriam para Lula. É uma escolha que deixa o eleitor confortável.”

Mas os especialistas também afirmam que parcela dos votos que a candidata da Rede receberia pode “derreter” – aumentando a migração para Haddad quando ele for anunciado oficialmente como o candidato de Lula e do PT.

O ex-prefeito de São Paulo é mencionado como opção de voto por 17,3% dos eleitores de Lula entrevistados pela pesquisa CNT/MDA.

Na prática, isso significa que o ex-presidente transferiria 6,5 pontos percentuais para o atual vice na chapa – pouco mais do que transferiria para Marina, 4,5 pontos percentuais.

Lucio Rennó ressalva, ainda, que o PT terá muito mais dificuldade para emplacar o nome de Haddad do que teve para eleger Dilma presidente em 2010, um momento em que o índice de aprovação do governo Lula ultrapassava 80%.

“Tínhamos um governo bem avaliado pela população que tentava se manter no poder. Era um mesmo projeto sendo reeleito”, diz.

“Agora, o contexto é muito diferente. É um contexto de crise econômica que pode ser atribuído às políticas econômicas do PT. E você tem um candidato que foi prefeito de São Paulo com uma avaliação moderadamente negativa da população e que não foi reeleito.”

De acordo com a pesquisa CNT/MDA, os demais candidatos receberiam apenas um valor residual de votos de Lula – um percentual baixo a ponto de se enquadrar na margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

Dos entrevistados, 3,7% disseram que se Lula não concorresse votariam em Geraldo Alckmin; 0,8% em Guilherme Boulos; 0,7% em Álvaro Dias; e 0,7%, em Henrique Meirelles.

“Transferência de Lula para Alckmin é pouco provável, até porque os locais de votação onde eles disputam votos são distintos”, afirma.

  Publicado em: Governo

Uma comentário para Para quem pensa que os votos de Lula vão para a Haddad!!! Ele só recebe 11,9% desses votos, segundo a CMT/MDA…

  1. Edivan Valadares disse:

    Acho que ele tá muito bem, ele se quer é conhecido no Brasil!

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