Um povo que não valoriza sua história não tem memória e identidade!!! Ministério Público tentar evitar depredação e venda de relíquias de JK

Publicado em   18/maio/2012
por  Caio Hostilio

Renato Alves

Dois promotores de Luziânia (GO) entraram com ação cautelar para garantir a preservação do patrimônio histórico da Fazendinha JK, distante 13km do centro da cidade goiana, que fica a 60km de Brasília. A propriedade foi a última moradia do presidente Juscelino Kubitscheck, morto em 1976 em um acidente automobilístico. Como denunciou o Correio Braziliense há duas semanas, ficaram expostos ao vandalismo, aos furtos e à deterioração a casa que abrigou o fundador de Brasília e as relíquias em seu interior.

A propriedade está abandonada desde a tarde de 3 de maio porque o casal que morava nela com os três filhos — de 10, 12 e 17 anos — saiu após saber de uma ordem de despejo. A medida teria partido da matriarca da família, Walkíria Ganassin Servo, 78 anos. Ela tem o apoio três dos seis filhos, em guerra com o caçula, Antônio Henrique Belizário Servo, 45, ocupante da casa vizinha à mansão de JK nos últimos 12 anos. Era ele e a mulher, Rosana Servo, 44, quem tocavam o projeto que transformou a fazenda em museu, com visitas guiadas à casa construída por Niemeyer, desde 2009. Trabalho interrompido há dois meses e meio, quando Walkíria entrou com uma medida protetiva contra Antônio Henrique.

Todos os móveis e itens de decoração são os mesmos desde que a família de JK vendeu a propriedade, em 1984, a um ex-deputado paranaense, marido de Walkíria Servo. A residência é a única obra de Oscar Niemeyer na zona rural. Mas sua conservação esbarra em uma disputa judicial entre os herdeiros da fazenda.

Os promotores Ricardo Rangel de Andrade e Jean Cleber Cassiano Zamperlini propuseram a medida contra o município de Luziânia e cinco pessoas envolvidas na disputa da posse e administração da fazenda: Valquíria Servo, Nilton Cezar Servo, Nivaldo Roberto Servo, Emerson de Oliveira Santos e Renato Costacurta Prata.

Risco de alienação

Ricardo Rangel e Jean Zamperlini relatam na ação que o patrimônio histórico-cultural da fazenda corre sério risco em razão do conflito familiar envolvendo os filhos da atual proprietária, Valquíria Servo. A disputa entre eles levou à suspensão das visitações públicas e, de acordo com a cautelar, há iminente risco de que as relíquias do acervo sejam alienadas.

Visando evitar a depredação do patrimônio, os promotores pediram a concessão de liminar para determinar ao município de Luziânia que fiscalize e impeça toda e qualquer alienação de peças, objetos e demais bens de relevante valor histórico-cultural integrantes do acervo da Fazendinha JK, bem como fiscalize e proíba a realização de obras e atividades no local.

O pedido de liminar inclui ainda a determinação aos cinco outros requeridos para que não pratiquem qualquer ato que atente contra as características originais da propriedade ou contra a incolumidade do acervo, vedando-se, portanto, a alienação, desvio ou disposição de qualquer bem relacionado no catálogo referente ao acervo de Kubitschek. Para garantir as medidas, foi requerida a imposição de multa diária de R$ 1 mil, em caso de descumprimento.

Ainda de acordo com o relato dos promotores, a fazenda era administrada anteriormente por Antônio Henrique Belizário Servo e Rosana Gil de Queiroz, legítimos possuidores, mas eles foram afastados de suas funções e da própria fazenda pelos demais filhos da proprietária. Conforme destacado na ação, quatro dos requeridos na ação — Nilton, Nivaldo, Emerson e Renato — “invadiram a propriedade, com grave ameaça, para fim de esbulho possessório, ocupando-a indevidamente”. Como outra medida cautelar, o MP de Goiás requereu o afastamento de Nilton Servo da fazenda.

Retrato do abandono

O abandono da propriedade só deve acelerar a deterioração do imóvel, parte importante da história de Brasília e do Brasil. A piscina não é limpa há dois meses. Bancos e cadeiras da área externa, usados por JK e seus familiares, estão quebrados. Pouco resta dos jardins desenhados pelo paisagista Burle Max. O mato toma conta dos arredores da residência projetada por Niemeyer.

Infiltrações e mofo estão por todo o seu interior. A Mercedes Benz fabricada em 1963 e usada por Juscelino na campanha presidencial está desemcapada e em uma galpão sem parte do telhado. A família dono da fazenda alega não ter dinheiro para mantê-la, principalmente a mansão. Por isso, parte quer vender as terras.

Quando Juscelino comprou a propriedade, em 1972, ela tinha 310 alqueires. No terreno com água abundante — incluindo cinco lagos artificiais — e a bela e confortável casa, o ex-presidente, que tinha o mandato de deputado federal cassado pela ditadura militar e estava proibido de entrar em Brasília, viveu seus últimos quatro anos.

Com a sua morte, em 1976, o espaço ficou para a família Kubitscheck, que, oito anos mais tarde, o vendeu a Lázaro Servo, deputado estadual pelo Paraná e amigo de Juscelino. Na negociação, Sarah Kubitscheck, mulher de JK, pediu ao novo dono para manter a casa e, principalmente, os móveis e objetos pessoais do marido dela como originais. Mas era um acordo verbal.

Fracionamento
Lázaro Servo manteve o compromisso até morrer de infarto, em 1999. Cinco anos atrás, seus herdeiros tentaram vender toda a fazenda. Mas não apareceu ninguém disposto a pagar os US$ 6 milhões (R$ 12 milhões à época) pedidos pela família. Com isso, quatro dos seis filhos decidiram fracionar parte da propriedade. Sobraram apenas 78 alqueires, incluindo a área onde ficam a mansão e um cruzeiro — também projetado por Niemeyer — e os lagos.

Na tentativa de tornar a fazenda sustentável, ele e a mulher buscaram apoios, fizeram treinamentos e abriram a propriedade à visitação, em 2009, após uma ampla reforma. Mas as visitas guiadas, que custavam R$ 80 por pessoa, fracassaram. A média de 1mil a 1,5 mil turistas por ano foram insuficientes para manter a casa onde morou Juscelino. “Precisaríamos de R$ 10 mil mensais para arcar com todos os custos. Hoje, minha renda mensal é de R$ 2 mil, que ganho com o arrendamento dos pasto para criação de gado. Não tenho dinheiro nem para pagar advogado para me defender”, desabafa Antônio Henrique. “Aliás, não quero dinheiro. Gostaria que a União desapropriasse tudo e transformasse isso aqui em um museu público. JK e o Brasil merecem isso”, completa.

Tombamento
Antônio Henrique e a mulher temem a venda de cada um dos itens do interior da mansão, onde, entre outras coisas, há 1,8 mil livros — muitos deles raros — e quadros de autores famosos. Ambos se agarram ao Ministério Público ao Iphan para manter a história preservada. Técnicos do Iphan estiveram na fazenda em 2008, catalogaram mobiliário, objetos pessoais, Iivros entre outros itens e constaram a importância do acervo e do prédio de Niemeyer. Mas o processo de tombamento emperrou na burocracia e na falta de pessoal do órgão. “Há uma sobrecarga de demanda emergencial, com projetos de tombamento pendentes há anos, e esse não era uma prioridade”, alega a superintendente substituta do Iphan de Goiás, Beatriz Otto de Santana.

RELÍQUIAS

Alguns itens da fazenda onde morou JK

1,8 mil livros

Incluindo coleção rara de medicina, da épocaem que Juscelinofez pós-graduação em Paris

Mercedes Benz 1963

Usada na campanha presidencial, com os pneus originais, bancos de couro e volante de osso

Cadeira de JK

Ele usou quando governou Minas Gerais

Duas máquinas de escrever Olivetti

Também usadas pelo expresidente

Caixa de pôquer

Escrita “20/11/1971” na tampa de madeira, diaem que JKestava jogando e fez um royal de copas

Mesa de pôquer

Com 11 cadeiras intactas

Presentes de embaixadores

Ficam nas prateleiras da sala de jogos, como uma porcelana japonesa e uma licoeira com os traços do Palácio do Alvorada

Quadros de fotos

Em preto e branco da época da construção de Brasília, de JK e de dona Júlia, mãe de Juscelino

Roupas de cama

São todas originais

Pratarias, louças e cristais

Tudo também original

Mesa de jantar

Com tampo de vidro

Cadeiras
Forradas com veludo alemão

  Publicado em: Governo

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