Corrupção: Nesse filme não tem mocinho, só dá bandido.

Publicado em   13/out/2011
por  Caio Hostilio

Quando se fala em corrupção, a primeira imagem que nos vem à cabeça é a de um vereador, um prefeito, um deputado, um senador, um governador ou um ministro – um político, enfim. Não é justo. Não é justo porque esse monstro repugnante chamado corrupção não é privilégio exclusivo dessa classe tão desmoralizada e desacreditada. A corrupção política é apenas mais evidente do que as outras, porque a mídia vive de olho em cima e bota a boca no trombone, sempre que um espécime da fauna mete a mão no bolso do povo. Mas há muitas outras faunas e milhares de outros espécimes. Se a mídia fizesse o mesmo escarcéu com relação à corrupção dos empresários, por exemplo, o bicho ia pegar muito mais do que já pega. E a corrupção da polícia? Nem me fale! A da justiça então é um horror; a toda hora estão noticiando as safadezas de promotores, juízes e desembargadores por aí. Tem também a corrupção dos médicos e a dos (com perdão da má palavra) advogados. Sem falar na corrupção dos padres, dos pastores evangélicos, dos jornalistas, funcionários públicos, vendedores… Meu Deus, é corrupção que não acaba mais!

E tem mais, minha gente. Vejam só o que o dicionário diz quanto ao significado da palavra “corrupção”:

Cor.rup.ção – sf.: 1 Ação ou resultado de corromper(-se); 2 Adulteração das características originais de algo; DESVIRTUAÇÃO; DETURPAÇÃO; corrupção do sentido de uma frase. [Antônimo: conservação, manutenção]; 3 Decomposição orgânica; DETERIORAÇÃO; PUTREFAÇÃO. [Antônimo: conservação, preservação.]; 4 Soc. Ato ou efeito de subornar, vender e comprar vantagens, desviar recursos, fraudar, furtar em benefício próprio e em prejuízo do Estado ou do bem público; ALICIAÇÃO. 5 Fig. Degeneração moral; DEPRAVAÇÃO; IMORALIDADE; PERVERSÃO [ Antônimo: decência, decoro, moralidade.]

Quer dizer, corrupção é meter a mão no que é dos outros, mas não é somente isso. Sonegar impostos também é corrupção, tanto quanto desviar o dinheiro dos impostos para fins diferentes daqueles a que são destinados. Todo sonegador é corrupto. E quem é que não sonega impostos nesta nossa pátria amada, idolatrada, salve, salve? Depredar orelhões, lixeiras, hidrantes, pichar paredes, traficar drogas, assaltar, assassinar, estuprar, jogar lixo na rua, agredir, seja quem for, física ou verbalmente, dirigir bêbado, sem carteira ou com a própria vencida, desrespeitar as regras do trânsito, enriquecer a custa dos dízimos dos fiéis, poluir as águas, desmatar as florestas, poluir a atmosfera, exibir novelas e filmes violentos e depravados na TV ou nos cinemas… Tudo isso, e muito mais que muita gente faz, também é corrupção. Ou será que não? Alguém duvida?

E mentir? Mentir não é corrupção? Alguém dirá que não? Eu acho que dirá, sim, muita gente dirá. Talvez a maioria. Sim, porque a maioria – senão a totalidade das pessoas – mente. Você, por exemplo, que está lendo este artigo, você mente? Mente para a mulher,  o marido, os filhos, os vizinhos, os colegas detrabalho, os amigos, os alunos, os professores, os clientes, o patrão e até para os desconhecidos?

Talvez você diga que só mente às vezes, “mentirinhas” sem importância. Você acha que isso existe? Acha que alguém pode ser muito honesto, mais ou menos honesto ou um pouquinho honesto? Isso não seria como a mocinha que contou à mãe que estava “um pouquinho grávida”? Você acha que roubar um real é diferente de roubar cem milhões de dólares? Ou que matar uma formiga é diferente de matar uma pessoa? Se acha, por que acha? A virtude e o pecado são questões de quantidade ou de qualidade? Se é de quantidade, botar fogo no barraco de uma velhinha e queimá-la viva é mais perdoável do que jogar dois aviões nas Torres Gêmeas do World Trade Center? Se você acha que é, tente explicar por quê. Talvez você diga que é mais perdoável, porque a velhinha é só uma pessoa e nas Torres Gêmeas foram mortas milhares delas. Neste caso, você acha que o erro é uma questão de quantidade, não de qualidade. Quer dizer, matar um judeu é diferente de matar seis milhões, como fez Adolph Hitler? Para você, um erro se mede com a régua, a calculadora e a balança?

Não pretendo conquistar adeptos, fundar um partido político, uma filosofia nem uma nova religião, principalmente porque tenho a consciência que os seres humanos são hipócritas, assim como eu. Essas coisas são verdadeiras para mim, eu vivo de acordo com elas e isso me basta. Para mim, nesse filme que eu vejo diariamente na TV, nos jornais e nas ruas, não tem mocinho, só dá bandido. Não é justo você se revoltar contra a corrupção dos políticos, se é capaz de mentir. Neste caso, você não tem direito de atirar a primeira pedra. Nem neles nem em ninguém.

Agora fica a pergunta: existem pessoas honestas, sérias, corretas e confiáveis? Tomara que sim. Contam que Diógenes, o famoso filósofo da Grécia antiga costumava andar pelas ruas de Atenas, à noite, com uma lanterna na mão, procurando, segundo ele, alguém realmente honesto. Nunca encontrou. Mas, hoje, tomara que as coisas sejam diferentes. Tomara que existam políticos, empresários, promotores, juízes, desembargadores, médicos, advogados, padres, pastores evangélicos, jornalistas, funcionários públicos, vendedores e outros cidadãos e cidadãs que não sejam corruptos. Se você é um deles, parabéns. A humanidade inteira agradece a você. (sávio pessoa).

  Publicado em: Governo

2 comentários para Corrupção: Nesse filme não tem mocinho, só dá bandido.

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